domingo, 5 de março de 2017

Riscos provocados pelo uso de analgésicos anti-inflamatórios não esteroidais

Os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) são os medicamentos mais vendidos dentro da farmácia, movimentando R$ 2,6 bilhões de reais anualmente. Os AINEs atuam atuam inibindo a enzima ciclooxigenase (COX) que produz uma imensa variedade de subprodutos responsáveis pela dor, inflamação e febre. Existem três tipos de ciclooxigenase, a COX-1 que pode ser induzida por machucados/injúrias assim como também é produzida inerentemente pelo organismo,  a COX-2 que é induzida quase que exclusivamente por injúrias no corpo e a COX-3 que se encontra principalmente no cérebro e é responsável pelo mecanismos de febre e dor de cabeça. Cada AINE tem mais afinidade por uma subtipo em detrimento do outro, o que irá prever os seus efeitos adversos.

Tipos de AINEs:

  • Não-seletivos que são inibidores da COX-1 e COX-2: se enquadram nesse grupo o naproxeno, aspirina, cetorolaco, ibuprofeno e piroxicam.

  • Não-seletivos que inibem mais a COX-2: nimesulida e diclofenaco são os principais representantes desse grupo.

  • Inibidores seletivos da COX-2: são da família dos coxibes, tais como o etoricoxibe e celecoxibe.

  • Inibidores seletivos da COX-3: o paracetamol e acetaminofen são os únicos representantes. 


Os AINEs possuem diversos efeitos adversos por inibirem a COX, principalmente ao inibirem a COX-1 que é constitutiva, ou seja, produzida normalmente pelo organismo para executar funções cruciais. Muitos desses efeitos adversos são bem conhecidos pela população, principalmente a idosa que é a mais vulnerável. Os riscos variam no uso em curto e longo prazo e serão descritos:


Ulceras/queimação no estômago.

A grande maioria dos AINEs inibem a produção de muco protetor no estômago, que serve para evitar que o ácido gástrico (formado por ácido clorídrico) danifique as células estomacais. Sem essa produção o ácido fere a parede estomacal causando gastrite, ulceras e sangramentos. Em casos mais graves podem ocorrer ulceras e sangramentos duodenais. O risco é maior com os inibidores da COX-1 e em menor com os inibidores da COX-2, sendo ausente com os inibidores da COX-3.

Asma

Ao bloquear a ciclooxigenase, os AINEs desviam a produção endógena de prostaglandinas para a produção de leucotrienos, que são um dos principais compostos que desencadeiam a asma fazendo com que haja exacerbação das  crises,  com o efeito mais proeminente nos inibidores do tipo 1 e 2 da COX.

Rins

Os AINEs inibidores da COX 1 e 2 inibem a produção das prostaglandinas protetoras renais, fazendo com que o rim receba menos fluxo sanguíneo e comece a apresentar insuficiência. Esse efeito é de longo prazo em pacientes que fazem uso crônico, principalmente os idosos. Casos de transplante renal já foram relatados.

Hipertensão

Com a diminuição do fluxo sanguíneo renal provocados pelos AINEs, os rins passam a produzir mais renina, uma enzima chave na produção de angiotensina II e aldosterona. A primeira age auxiliando na vasoconstrição dos vasos sanguíneos e na produção de aldosterona, enquanto que a última aumenta a sede e retém água e sódio. O efeito global é o aumento da pressão sanguínea. Esse efeito é verificado no longo prazo sob uso crônico dessas medicações.

Risco de sangramentos

Os AINEs diminuem a produção indiretamente de tromboxano A2 pelas plaquetas ao inibirem a Ciclooxigenase-1. O TXA2 é importantíssimo para a agregação plaquetária e formação do coágulo, evitando hemorragias, então por esse motivo os AINEs não seletivos são anticoagulantes e facilitam o aparecimento de hemorragias em hemofílicos, indivíduos com doenças hepáticas ou com contagem baixa de plaquetas. Os AINEs inibidores da COX-1 jamais devem ser utilizados após a ingestão de álcool, pois o álcool potencializa a ação anticoagulante desses medicamentos, sendo mais fatal sob o uso de aspirina e naproxeno. Os inibidores da COX 2 e 3 não são anticoagulantes.

Anemia

A anemia é um efeito secundário ao uso dos AINEs visto no curto e longo prazo com o aparecimento de ulceras estomacais e duodenais, ou na piora das já existentes. Por induzir a formação de ulceras, intensos sangramentos podem acontecer e são agravados pelo seu poder anticoagulante. Esses sangramentos podem acarretar em perda intensa de hemácia e ferro, causando anemia. Idosos são mais propícios a terem esses efeitos. Os inibidores da COX-1 são os que mais provocam essa anormalidade, principalmente a aspirina e o naproxeno.

Risco de ataque cardíaco

Ele é exclusivo dos inibidores seletivos da COX-2. Isso porque as células endoteliais dos nossos vasos sanguíneos produzem um substância chamada prostaciclina, que é um anticoagulante natural, para contrapor os efeitos pró-coagulantes do TXA2. Como a ciclooxigenase 2 é uma das principais produtoras de prostaciclina, a sua inibição diminui a produção dela e faz com que o TXA2 domine e as chances de  formação de coágulos intravasculares aumente, podendo acarretar em ataques cardíacos e derrames cerebrais. Felizmente os inibidores seletivos da COX-2, os coxibes, são apenas vendidos sob receita médica.


Nenhum comentário:

Postar um comentário