sexta-feira, 3 de março de 2017

Lidando com a (com quem tem) depressão.

É notório o quanto essa doença tem aumentado em prevalência no mundo, principalmente por causa do nosso estilo de vida e também por causa que ela ganhou mais notoriedade, passando a sofrer menos estigmas sociais. 

Décadas atrás, estar com depressão era sinônimo de loucura, fraqueza ou falta de Deus, onde os estigmas sociais eram bastante arraigados e o preconceito reinava de tal forma, que quem era doente escondia a doença sob sete chaves e acreditava que os seus sintomas poderiam ser "frescura" ou algo "sem importância". Inclusive até, muitos médicos não acreditavam na existência de tal doença até os anos 70 no Brasil. O cenário mudou com pesquisas em novos medicamentos, aperfeiçoamento das terapias com psicólogos e aceitação da sociedade da existência dessa doença. Apesar de ter mudado muita coisa, ainda estamos longe de ter um ponto de apoio para os depressivos.

A depressão atualmente continua ainda muito estigmatizada socialmente, ainda tida como uma "frescura" ou "falta do que fazer". A não-aceitação de que ela se trata de uma doença é catastrófico, pois ela é de fato uma doença debilitante, que se não for tratada, acarretará em impedimento das funções cognitivas, do bem-estar, das relações sociais e contribui na piora da saúde como um todo. Isso contribui para um alto custo social  para o depressivo e sua família/amigos, como também para a economia devido a baixa produtividade e as faltas no trabalho, caso a depressão não seja tratada.

A principal barreira está na aceitação de que a depressão é uma doença. Quem tem depressão não se aceita com a doença por diversos motivos: não quer parecer louco ou fraco, pensa que ela vai passar sozinha e que os tratamentos convencionais não funcionam. A aceitação de que se está doente é o primeiro e mais dolorido passo para se obter um tratamento com a posterior cura, e o segundo passo mais dolorido é a aceitação de amigos e familiares de que você está doente, e de que precisa de tratamento.

Muitos depressivos passam por certos situações desconfortáveis, tanto criadas por eles, como influenciadas por pessoas do meio externo. Uma das situações mais comuns é a pressão para se aumentar a produtividade, voltar ao trabalho, exercer tarefas que devido a doença, naquele momento podem ser dificultosas. O pior, é quando essa pressão vem do meio externo, como o seu chefe, amigos ou familiares, o que eleva o mal-estar interno e as frustrações, lembrando que o depressivo sofre uma autocobrança excessiva, e exacerba-la só piora a doença, sendo que ela está associada aos pensamentos automáticos negativos irrealísticos, que serão posteriormente descritos.

O terceiro mais dolorido passo é buscar tratamento, pois há o preconceito generalizado que psiquiatra/psicologo são para pessoas loucas, e acredite, a primeira consulta com o psicologo será a mais "chocante" pois você está inserido em algo novo no qual você terá que desabafar e desconstruir os seus pensamentos negativos. Lembrando sempre, que, sem o psicólogo a cura da depressão é muito difícil de ser alcançada e os medicamentos utilizados apenas aliviam a sintomatologia da doença, ajudando como adjuvantes terapêuticos, até porque os medicamentos não falam/interagem com você. Para aqueles que já se assumiram com depressão e que já fazem o tratamento de fato, aí vão duas coisas importantes: apenas medicação não cura a depressão e esconder fatos/histórias do seu psicólogo farão com que a cura seja prejudicada também. Então, sejam honestos com vocês mesmos e com o seu psicólogo.

Quem tem algum amigo/parente em depressão tente evitar algumas coisas tais como:


  • Dizer que é algo passageiro: não, ela não é algo passageiro pois trata-se de uma doença onde os hormônios serotonina, dopamina e noradrenalina estão em baixos níveis. Tristeza sim, é algo passageiro.
  • Dizer que é falta do que fazer: não é falta do que fazer, e sim a depressão é um modo que organismo encontrou para se adaptar a situações desagradáveis ao seu meio externo, sendo elas, situações bem traumáticas.
  • Comparar com a vida de outras pessoas que "sofrem" mais: não é dizendo que tem pessoas na África que estão em situação pior que o paciente depressivo farão ele se sentir melhor, mas pelo contrário, só o fará se sentir pior fazendo-o achar que a sua doença é "frescura" e atrasando a procura por tratamento. Se comparar a nossa vida com pessoas em situação pior fosse a resolução, ninguém poderia ter raiva, estar triste ou coisa similar.
  • Mandar ele (a) trabalhar/estudar/fazer alguma coisa: isso pode até ajudar, mas também pode piorar. Pessoas se afastam do seu trabalho/faculdade por causa da depressão pois,  a execução dessas tarefas não lhes traz mais prazer, então mandá-los fazer tais atividades pode até piorar a autoestima e aumentar os estigmas sociais sobre o depressivo, por ser taxado como "antipático", "antissocial" ou "de baixa produtividade" no ambiente de trabalho/faculdade. Ao invés disso, mande-o procurar um psicólogo e iniciar um tratamento.
  • É preguiçoso: de fato a doença tira boa parte da energia vital e da vontade de viver, e isso é explicado na ausência de vontade ao fazer as tarefas cotidianas, mas não por preguiça, mas sim por falta de uma razão maior, a da existência. Tarefas antes prazerosas podem ser agora massantes e cansativas. 

Outra coisa digna de nota é que nenhuma depressão é igual a outra, isso porque cada indivíduo é único e tem a sua própria história e comportamentos, sendo única também a maneira de lhe dar com as frustrações por meio das experiências externas, onde cada um tem respostas individuais as ditas experiências externas. Tem que ser destacado também que a depressão não é "ser" ou "ter" e sim estar. Você não é a depressão, você não tem a depressão (até porque ninguém te deu ela ou você a pegou) e sim, você está com depressão, que é um estado patológico. Esse estar com depressão denota que o modo como você age depressivamente não é você, e sim a doença que está agindo por você, e ao curar-lá, você voltará ao seu 'eu' original.

Tem algum modo de se policiar e ver se estou entrando em depressão?

Sim, existe. A depressão é continuada através dos chamados pensamentos automáticos negativos irrealísticos, ou seja pensamentos que você tem toda a hora (de forma consciente ou não) que são negativos e não correspondem a realidade. Normalmente nos temos centenas e centenas de pensamentos automáticos, tais como por exemplo: se eu vejo um bebedouro, logo eu penso que nele há água, mesmo que eu não queira pensar, eu penso que lá tem água, então esse foi meu pensamento automático. Na depressão e "pré-depressão" eles se tornam negativos e irrealísticos, pois não correspondem aos fatos reais, por exemplo: eu vejo que tenho prova próxima semana, mas logo penso que mesmo que eu estude não passarei (pensamento automático negativo irrealístico). Antes da depressão ser instaurada começam a ocorrer esses pensamentos disfuncionais, então você pode se policiar e evitá-los antes que a doença seja instaurada.

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