segunda-feira, 10 de julho de 2017

Hipotiroidismo: como identificar?

O hipotireoidismo é uma doença geralmente silenciosa que pode ou não ser sintomática. Estudos feitos no Brasil mostram uma prevalência girando em torno de 4-8%, afetando mais as mulheres do que os homens. A doença pode trazer complicações principalmente para o sistema circulatório e neuronal, tendo elevado índice de morbidade se não tratada.

O hipotireoidismo ocorre quando a tireoide produz pouco T4 (tiroxina), o principal hormônio tireoidiano. Ou quando a produção está na dentro dos limites, porém acorre um aumento na produção do hormônio TSH. O diagnóstico de hipotireoidismo é clínico e laboratorial, ou seja, as reclamações ouvidas do pacientes juntamente com o resultado dos exames atestam o hipotireoidismo. 

Apenas 50% dos brasileiros sabem que tem a doença e fazem tratamento. Em populações como a idosa e a infanto-juvenil, a porcentagem dos que desconhecem ou não fazem nenhum tratamento muito mais elevada.


Função da tireoide e regulação dos seus hormônios.

A tireoide é um órgão situado na frente da laringe, no pescoço, sendo responsável pela produção de tiroxina (T4) e em menor escala da triodotironina (T3). A produção desses hormônios é controlado por mecanismos do tipo feedback

À nível cerebral, a pituitária (uma pequena glândula localizada no cérebro do tamanho da cabeça de um alfinete) produz um hormônio chamado TSH (Thyroid Stimulating Hormone). O TSH estimula a tireoide a produzir e a liberar os hormônios T4 e T3, sendo que o T4 é o mais liberado (cerca de 75% do volume). Na circulação sanguínea, o T4 é convertido em T3, que é a forma biologicamente ativa do hormônio.

No organismo o T3 tem uma meia-vida curtíssima e promove profundas mudanças biológicas, principalmente metabólicas, tais como aumento da temperatura, da frequência cardíaca, da pressão sanguínea, queda nos nível de colesterol e lipídios, queda no peso, melhora no humor e no nível de atenção, aceleração do processo de digestão e dentre outros. Quando ocorre uma diminuição nos níveis de T3, o organismo passa a sofrer um grande número de problemas metabólicos.



Diagnóstico do hipotireoidismo. 

O hipotireoidismo é diagnosticado pela junção das reclamações clínicas do paciente e por resultados laboratoriais. No nível clínico, o paciente geralmente reclama de intolerância ao frio, prisão de ventre, sono durante o dia, pele seca, sensação de cansaço constante, ansiedade, depressão, aumento de peso e inchaço. Geralmente o colesterol e o LDL (mal-colesterol) encontram-se elevados e os batimentos cardíacos diminuídos (bradicardia). 

Ao exame laboratorial, os níveis de TSH encontra-se elevados (acima de 4,5 mU/L) e os níveis de T4 estão baixos (abaixo de 1,4 mU/L), podendo assim ser chamado de hipotireoidismo evidente. Existe também o hipotireoidismo subclínico, que é aquele ao qual o paciente tem poucos sintomas e os níveis de T4 estão normais, porém os níveis de TSH encontra-se elevados. No hipotiroidismo subclínico a pituitária tenta produzir muito TSH para que os níveis de T4 não fiquem abaixo do normal, mas às vezes isso nem é o suficiente para evitar a queda, provocando dessa forma o chamado hipotireoidismo evidente, como mencionado anteriormente. 

Uma das principais causas de hipotireoidismo é o ataque auto-imune da tireoide pelas nossas próprias células de defesa ocasionando uma perda total/parcial da tireoide, sendo permanente na maioria das vezes. Por isso muitos médicos pedem exames complementares como o aTPO (anticorpos antitireoperoxidase) e o aTg (antitireoglobulina) para confirmar se a doença é auto-imune. Ela pode ser idiopática (sem causa definida) ou após alguma infecção bacteriana ou viral das vias aéreas.



A segunda maior causa é devido a baixa ingestão de iodo na dieta. O iodo é essencial para a produção dos hormônios tireoidianos e sem ele, não há produção de T3 e T4. Uma característica da deficiência de iodo é o bócio, que é um aumento da tireoide caracterizado por baixas concentrações de iodo e hormônios tireoidianos e uma alta concentração de TSH. O bócio é visível e facilmente diagnosticado, mostrando uma protuberância evidente na região do pescoço. O tratamento é simples, feito à base de suplementação com o iodo. Geralmente o iodo já vem suplementado em diversos alimentos, e no Brasil ele é encontrado principalmente no sal de cozinha, sendo naturalmente encontrado em algas marinhas, peixes e leite. Porém, o excesso de iodo na dieta também pode provocar o hipotireoidismo auto-imune por um mecanismo ainda desconhecido. Então nem devemos ter o iodo em baixa e nem em excesso, obtendo apenas a faixa ideal de sua concentração.

Mulher com bócio evidente


Por vezes o médico pode solicitar um exame para avaliar a concentração de iodo por meio de coleta de urina para verificar se há uma deficiência ou uma hiper suplementação desse mineral.


Tratamento

O tratamento é bem simples e muito eficaz, com resultados sendo alcançados com no máximo um mês de terapia. A substituição hormonal é o único tratamento para aqueles que sofrem com o hipotireoidismo, sendo a tiroxina (T4) o hormônio de escolha. O uso da triodotironina (T3) não é recomendada devido a ausência de comprovada eficácia e o uso de múltiplas doses diárias. A combinação entre T4 e T3 é raramente usada, e quando usada, trata casos peculiares e refratários de hipotireoidismo. O objetivo do tratamento é a diminuição dos sintomas clínicos e o retorno aos níveis normais de TSH, T4 e T3. Geralmente, os sintomas cognitivos tais como cansaço, depressão, ansiedade e perda de memória levam um pouco mais de tempo para desaparecerem em alguns pacientes, porém eles apresentam melhoras significativas ao início da terapia.


O que acontece se eu não tratar?

Devido as alterações vasculares e o aumento na carga de lipídeos e colesterol, pacientes com hipotireoidismo estão mais predispostos a terem infartos cardíacos e derrames cerebrais bem como problemas renais, tais como insuficiência renal. A predisposição ao diabetes é maior nesses pacientes. O desenvolvimento da depressão pode ser um dos fatores que mais comprometem a qualidade de vida do doente, sendo resistente se não tratada. A diminuição em outras habilidades cognitivas tais como a memória pode ser significativa. Quando o hipotireoidismo ocorre na infância, esse terá que ser tratado urgentemente, pois o hipotireoidismo é associado com retardo mental.


domingo, 2 de julho de 2017

A obesidade na infância pode prejudicar o desenvolvimento sexual masculino pré-púbere.

A obesidade infantil tem se tornado um problema cada vez mais real e está abrangendo um número cada vez maior de crianças. Sedentarismo, vida virtual e fast-foods são os três pilares para essa epidemia de obesidade infantil. 

Nos EUA, 17,4% das crianças entre 2-10 anos são consideradas obesas, ou seja, mais de 8 milhões de crianças. O sobrepeso afeta aproximadamente 33,4% dessas crianças, atingindo quase 20 milhões delas, de acordo com dados coletados entre 2013-14, sendo uma das taxas mais elevadas do mundo. No Brasil, a obesidade infantil cresceu 10 vezes nos últimos dez anos, e é agora um problema de saúde pública. Cerca de 15% das crianças brasileiras já são consideradas obesas (taxa bem próxima à americana), sendo a região Sudeste a mais obesa do país, com 38,8% das crianças entre 5-9 anos já consideradas acima do peso, seguida pela região Sul, com 35.9%.

O excesso de gordura traz diversas comorbidades, tais como triglicerídeos e LDL altos, HDL baixo, risco de infarto e surgimento do diabetes, restrições na mobilidade, dores articulares, problemas respiratórios, apneia do sono, depressão e dentre outros. E quanto mais cedo a obesidade surge, mas cedo os problemas relativos a ela tenderão a aparecer.

Nos garotos, a obesidade pode fornecer um fator prejudicial adicional, impedindo o seu completo desenvolvimento sexual. 



Durante a pré-puberdade os níveis de testosterona sobem, provocando mudanças radicais no corpo do homem, tais como o aparecimento de pelos no corpo (na barba, axilas, peito, púbis etc.), engrossamento da voz, aumento do apetite sexual e agressividade, desenvolvimento do pênis, início da produção de espermatozoides, aumento do tônus muscular e desenvolvimento ósseo acarretando em um crescimento rápido.

Em garotos obesos, os níveis de testosterona permanecem abaixo do normal, sendo inversamente proporcionais à obesidade. Ou seja, quanto mais obesa a criança for, menos testosterona circulante ela terá. Os cientistas tem diversas explicações para esse fenômeno, sendo uma delas o fato de que a testosterona é um hormônio lipofílico. Isso quer dizer que a testosterona tem afinidade por gordura e fica preso na massa adiposa ao invés de ficar na circulação sanguínea. Outro fato é o de que o tecido adiposo na região da barriga tem uma enzima chamada de aromatase que converte a testosterona em estrógenos, que são um grupo de hormônios feminilizantes. Então, quanto mais obesa uma criança for, mais ela produzirá a enzima aromatase, e consequentemente mais testosterona será gasta para se produzir os estrógenos, fazendo com que haja pouca testosterona na circulação. Além disso, os estrógenos inibem a produção endógena de testosterona por meio de um efeito inibitório.




Os efeitos nos garotos na idade pré-púbere são evidentes, tais como o atraso no desenvolvimento sexual, bem como um baixo crescimento do pênis e a permanência das características infantis por um período de tempo mais longo. Quando o desenvolvimento sexual acontece, ele nunca é completo. Na questão da estatura, ocorre um efeito duplo: sem a testosterona os ossos não desenvolvem direito e a força da gravidade exercida pelo excesso de peso tende a comprimir os ossos, impedindo que eles cresçam. 

Nessas condições, o ideal é o acompanhamento médico e com um nutricionista, para a produção de uma dieta e de uma rotina de exercícios físicos para o adolescente. Durante o emagrecimento, os níveis de testosterona tendem a crescer até ficarem restaurados, possibilitando o completo desenvolvimento sexual do adolescente em fase pré-puberdade.  Isso ocorre porque mais testosterona está sendo liberada do tecido adiposo juntamente com a queda da atividade da enzima aromatase, fazendo com que menos testosterona se transforme em estrógenos, e impedindo os efeitos inibitórios do estradiol sobre a produção de testosterona.

Os baixos níveis de testosterona não só afetam os garotos obesos, afetando também aqueles em idade adulta. A obesidade é a segunda maior causa de hipogonadismo secundário em homens, levando a baixa circulação de testosterona. E como sublinhado anteriormente, uma dieta acompanhada de exercícios físicos tende a restaurar os níveis normais de testosterona no organismo.