domingo, 10 de dezembro de 2017

HIV: o que você precisa saber.


Sem dúvidas, o HIV é muito temido pelos jovens; mesmo assim, o número de casos tem crescido a cada ano. Segundo um relatório da UNAIDS, cerca de 36,7 milhões de pessoas vivem com o HIV, onde mais de 25 milhões encontram-se na África. A África do Sul é o país com mais pessoas vivendo com o vírus HIV, cerca de 7,2 milhões, correspondendo a mais de 10% da sua população e a mais de 20% da sua população adulta. A Botswana é o país mais afetado em porcentagem, com 36% da sua população convivendo com o vírus.

O Brasil tem cerca de 830 mil que convivem com o vírus HIV (dados de 2016), possuindo uma baixa incidência na população (cerca de 0,4-0,5%) graças ao seu amplo programa de prevenção que inclui testes rápidos, fornecimento da medicação antirretroviral de forma gratuita e acompanhamento médico e psicológico para aqueles que vivem com o vírus.



Vias de transmissão

O vírus HIV é transmitido via sexual, vertical (da mãe para o bebê durante o parto) e por transfusão sanguínea. Lembrando que há uma enorme diferença entre viver com o vírus HIV e ter o quadro clínico da AIDS. A AIDS é o resultado de um longo período de queda na contagem dos linfócitos CD4 (células especializados no auxílio e combate as infecções). A síndrome da imunodeficiência adquirida aparece apenas 8-12 após o contágio. 

Segundo o CDC (Clinical Infectious Diseases) existem diferenças no risco de contaminação dependendo dos meios de risco.

Por meio dos dados do CDC, é notório afirmar que a transfusão sanguínea feita de alguém que possui o vírus para alguém que não o tenha é de fato o maior fator de risco para se adquirir o HIV, havendo a probabilidade de 9.250/10.000 exposições; ou seja, 92,5% de chances.

Abaixo estão listados os fatores de risco e a sua probabilidade de infecção.


  • Transfusão sanguínea: 9.250/10.000
  • Compartilhamento de siringas: 63/10.000
  • Sexo anal com o parceiro sendo o receptivo (passivo): 138/10.000
  • Sexo anal com o parceiro sendo o ativo: 11/10.000
  • Risco via pênis-vagina (risco passado à mulher): 8/10.000
  • Risco via vagina-pênis (risco passado ao homem): 4/10.000
  • Sexo oral ativo ou receptivo: risco baixo (não mensurável).
  • Compartilhamento de brinquedos sexuais: negligenciável.


Como pode-se notar, de todas as práticas sexuais, o sexo anal receptivo ou ativo é a que mais traz riscos quando não se é usado o preservativo. Isso acontece pelo simples fato da mucosa intestinal ser muito fina e bem irrigada pelo sangue, o que facilita o aparecimento de sangramentos no local, promovendo mais facilmente a captação do vírus HIV. Lembrando que escoriações podem ocorrer no tecido vaginal e peniano da mesma no sexo heterossexual, onde o compartilhamento de fluídos e sangue pode acontecer, levando a infecção viral caso um dos parceiros possua o vírus e não esteja fazendo o tratamento. 



Ciclo viral

O vírus HIV é um vírus encapsulado de DNA da família Retroviridae. Sua sobrevivência fora do corpo humano é muito baixa, não durando uma hora completa fora da corrente sanguínea. Sua penetração no organismo se dá por qualquer via que o permita alcançar a corrente sanguínea do hospedeiro. Doenças sexualmente transmissíveis concomitantes, tais como gonorreia ou sífilis, bem como machucados na região genital, facilitam a entrada do HIV. 


O que o HIV pode causar? E qual a diferença entre AIDS e HIV?

O vírus HIV provoca a sua ação de uma forma indireta. Ele ataca e destrói os chamados linfócitos T CD4, que são as células de defesa mais importantes do nosso organismo contra vírus, fungos e bactérias, além de evitar o aparecimento de células malignas que possam se transformarem em câncer. 

Sem os linfócitos T, o seu organismo não consegue estabelecer uma resposta imunológica eficiente contra a invasão por microrganismos, fazendo com que eles proliferem de forma desenfreada, o que faz com que o doente seja acometido por um grande número de doenças infecto-contagiosas as quais não afetariam um indivíduo imunocompetente.

A AIDS nada mais é do que o aparecimento dessas doenças oportunistas. Se elas não aparecerem, o indivíduo apenas possui o vírus em sua corrente sanguínea.


Fases do HIV

O vírus HIV possui três fases: a aguda, a latente e a de AIDS. Cada uma tem as suas particularidades e probabilidades de disseminação. Veja abaixo as fases:


  • Fase aguda (primária): após um indivíduo se infectar com o vírus, ele terá um quadro clínico que pode aparecer após 15 dias ou 30 dias depois da infecção. Na fase aguda o HIV começa a se replicar desenfreadamente, onde a concentração de linfócitos T sanguíneos começam a cair por causa do vírus, provocando um estado de imunodeficiência com a liberação de diversas citocinas imunológicas pelo organismo do hospedeiro. Isso acarretará no aparecimento de sintomas parecidos com o da gripe, tais como a febre, manchas vermelhas no corpo, mal estar e diarreia. Muitas vezes esses sintomas são negligenciados, pois se assemelham com um resfriado/gripe. Nem todos os infectados apresentam esse conjunto de sintomas, podendo apresentar apenas parte deles. É na fase aguda, onde a concentração de vírus HIV está mais elevada, que ocorrem a maior parte das transmissões.


  • Fase de latência: a quantidade de vírus começa a cair após 3 meses, permanecendo constante até o 8º ou 12º ano após a infecção. Nessa fase de latência clínica o indivíduo segue normalmente sem apresentar qualquer sintoma da doença. O nível de transmissão nessa fase é mais baixo se comparado com a fase aguda, porém não é inexistente. Durante esse período, o número de linfócitos T  CD4 inicia um declínio constante. 


  • Fase da AIDS: é a última fase do ciclo do HIV, onde ocorre uma explosão na replicação viral e queda dramática no número de linfócitos T, promovendo o aparecimento de doenças oportunistas, tais como a tuberculose, pneumonias, candidíase oral e genital severas. Além disso, a doença é acompanha por picos febris, sudorese e emagrecimento acentuado. A perda da função renal e da consciência são bastante comuns nas fases avançadas. Geralmente, os pacientes morrem devido as doenças oportunistas, principalmente meningite, tuberculose e pneumonias. 



Porque é tão difícil obter uma cura contra o HIV?

O HIV é um vírus de DNA. Isso quer dizer que para ele poder se replicar e sobreviver, ele precisa se inserir no DNA da célula hospedeira; ou seja, ele se liga no DNA do linfócito T. Quando o seu material genético é inserido dentro da célula, ele fica em um estado de latência, escondido do sistema imune. Adicionalmente, o HIV induz uma resposta débil por parte das outras células do sistema imune (principalmente os linfócitos CD8 e NK), prejudicando a sua erradicação. 


Quais os tratamentos?

Os antirretrovirais são a única terapia anti-HIV, mas eles não eliminam o vírus do organismo, pois o seu DNA fica guardado dentro do linfócito T sob o estado latente; entretanto, eles bloqueiam a transmissão do vírus para as células não infectadas, além de atuar diminuindo a carga viral consideravelmente (ela fica indetectável), fazendo com que a contagem de linfócitos T volte ao normal. 

No Brasil, a combinação diária de tenofovir + lamivudina + dolutegravir é a mais utilizada para o HIV do tipo 1, enquanto que a combinação tenofovir + lamivudina + darunavir + ritonavir é a mais utilizada para o HIV do tipo 2.

Os efeitos adversos são, geralmente, passageiros e são bem limitados, tais como distúrbios gastrointestinais, alucinações, mal estar, depressão e insônia, e ocorrem no inicio do tratamento. A carga viral torna-se indetectável depois de 12-24 semanas; se porventura o paciente tratado abandonar o tramamento, a carga viral voltará a crescer desenfreadamente em um prazo de 10-15 dias. 


Como evitar o HIV?

A grande maioria já sabe que o uso de preservativos, seja o feminino ou o masculino, são um dos meios de prevenção em relação ao HIV. Recentemente, a PrEP, uma terapia antirretroviral que é fornecida para pacientes que não possuem o hiv com o objetivo de evitar a disseminação do vírus já é fornecida pelo SUS. Essa terapia se mostrou tão eficiente quanto a camisinha no quesito prevenção.


Como diagnosticar?

Os testes rápidos são disponíveis em todos os postos de saúde e são ofertados gratuitamente. Eles são também presentes em tendas de grandes eventos festivos como o carnaval.
Vale lembrar que os testes rápidos são baseado na produção de anticorpos anti-HIV, e esses anticorpos só aparecem após um mês da possível infecção. O recomendável, então, é fazê-lo 30 dias após a relação de risco.

O resultado definitivo é apenas confirmado por meio de testes mais sofisticados, tais como o western blot, imunofluorescência indireta, imunoblot ou PRC, que são mais caros e apenas realizados quando os testes de triagem dão positivo.