quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Finasterida e calvice: entenda os riscos dessa medicação

A finasterida é, sem dúvidas, o medicamento mais utilizado no Brasil e no mundo para o tratamento da calvice. Ela atua inibindo a enzima 5-alfa-redutase II, impedindo a conversão da testosterona em diidrotestosterona, que é o hormônio responsável pelo padrão masculino de queda de cabelo. Essa enzima é presente tanto no bulbo capilar como em diversos tecidos do organismo, tais como a próstata, cérebro, testículos e pênis.

Inicialmente a finasterida foi criada e lançada em 1992 para tratar a hiperplasia prostática benigna (crescimento benigno da próstata) sob a dose de 5 mg. Em 1997 a molécula passou a ser aprovada para tratar a alopecia androgenética (calvice masculina) sob a dose diária de 1 mg.

A finasterida sempre vai ser a "queridinha" quando o assunto é a calvice, pois pode ser tomada uma única vez por dia via oral, além de rapidamente fornecer um nítido crescimento capilar em apenas 03 meses de uso contínuo. Apesar de tanta eficácia, a finasterida tem os seus riscos sob o uso prolongado.

Países europeus como a Suécia e a Finlândia já proibiram o uso da finasterida sem prescrição médica e tem leis bastante restritivas no que diz respeito ao seu uso. Até os Estados Unidos também pretendem fazer o mesmo. No Brasil, a substância pode ser vendida sem qualquer controle.



  • Funções da testosterona no organismo.

A testosterona é um hormônio anabólico e andrógeno. Isso quer dizer que a testosterona é responsável pelo crescimento muscular e pelas características corporais/comportamentais do sexo masculino. É um hormônio essencial para o desenvolvimento das características masculinas durante a passagem da infância para a puberdade, sendo responsável pelo crescimento dos ossos, fechamento das epífises, pelo início da espermatogênese (produção de espermatozoides), engrossamento da voz, aumento do tônus muscular, desejo sexual, crescimento de pelos no rosto e no corpo e pelo temperamento mais agressivo/volátil.

No homem já adulto, a testosterona continua a atuar na função sexual, mantendo a produção de espermatozoides, a ereção e o libido. Além desses efeitos, ela contribui para o bem-estar geral do cérebro, inibindo o surgimento da depressão e o aparecimento da ansiedade. Nos músculos, a testosterona é responsável por manter o tônus e a força, agindo também no tecido adiposo, aumentando a queima calórica e o HDL (colesterol bom).


  • Efeitos adversos.

Pelo fato da finasterida ter efeitos que vão além do couro cabeludo, poderemos observar o surgimento dos chamados efeitos adversos, sendo os mais comuns a leve perda do libido, dificuldade em manter a ereção 100% e ginecomastia (crescimento das mamas). São efeitos leves, que passam conforme o tempo de uso e atingem no máximo 10-20% dos que tomam o medicamento, principalmente homens acima dos 40 anos.

Mas, em uma pequena proporção (bem pequena mesmo) dos homens que tomam a finasterida ocorre a chamada síndrome pós-finasterida, que é desencadeada geralmente após a interrupção do medicamento. Os efeitos adversos são nefastos e estão sendo estudados intensamente por médicos em diversas partes do mundo. Eles serão esquematizados abaixo de forma pormenorizada:


  1. Efeitos no SNC: os efeitos são depressão, perda da concentração, insônia, ansiedade e queda no libido. Há receptores hormonais nas terminações nervosas penianas, bem como em áreas do cérebro responsáveis pelo prazer sexual e bem-estar. Foi comprovada a liberação de óxido nítrico induzida pela ação da testosterona/diidrotestosterona a nível peniano. O óxido nítrico é importante no processo de dilatação  dos vasos penianos e pelo mantimento da ereção. O viagra, por exemplo, atua liberando óxido nítrico no local, aumentando a capacidade erétil do pênis.
  2. Efeitos na musculatura: ocorre a diminuição da massa muscular com a indução de tremores. A testosterona age diretamente no músculo impedindo os efeitos catabólicos do cortisol. Se existir um desequilíbrio hormonal onde há mais cortisol que testosterona, o resultado  final será a perda do tônus e massa da musculatura como um todo.
  3. Efeitos nos órgãos genitais: a ereção é prejudicada, ocorrendo dores constantes no pênis e nos testículos, onde esses dois órgãos em alguns pacientes chegam a diminuir de tamanho. Ocorre a queda na produção de espermatozoides, podendo levar a infertilidade. Perda da sensibilidade no pênis, perda de volume ejaculatório e prolongamento para se chegar ao orgasmo são também relatados. A espermatogênese (nos testículos) é altamente dependente dos hormônios sexuais, assim como a produção do sêmen (na próstata). Tanto o testículo, como a próstata, respondem diretamente ao efeito dos hormônios sexuais ou indiretamente através das terminações nervosas estimuladas pela testosterona. 


Essas reações podem aparecer quando o paciente para de usar a finasterida ou em até 3 meses após a suspensão do uso. Os efeitos dessa síndrome podem durar meses, anos ou pelo resto da vida. Os pacientes mais susceptíveis são aqueles que usam a finasterida por mais de 01 ano, com idade mais avançada e que possuem maus hábitos, tais como fumar, beber ou má-alimentação associada com o sedentarismo.

Infelizmente essa síndrome não tem cura, e quando os pacientes questionam o seu médico, a maioria diz que é "psicológico". Dessa forma é sempre ideal utilizar medicamentos tópicos como primeira linha, tais como o minoxidil e outros. A finasterida poderá ser usada apenas se a primeira linha falhar; mas, é claro, sob orientação médica e pesando sempre os riscos e benefícios.

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