quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Staphylococcus aureus: uma ameaça que você deveria conhecer

Dificilmente você deve ter ouvido falar dele, mas o Staphylococcus aureus é uma bactéria que está e estará presente até o final de nossas vidas. A bactéria em si você pode não conhecer, mas com certeza já conhece algumas das doenças que ela pode provocar.

Na infância é bem comum o aparecimento de infecções cutâneas provadas pelo S. aureus. O impetigo bolhoso e o não bolhoso é uma delas e geralmente acontece durante a infância, onde o aparecimento de bolhas purulentas, dor no local e machas vermelhas com o aparecimento de crostas em um padrão que afeta mais as regiões da face, braços e peitos, dão fortes indícios do acometimento do indivíduo por essa doença. A febre nesse caso pode ou não aparecer, mas geralmente é branda.

A celulite é uma outra doença provocada por essa bactéria, sendo mais profunda, produzindo vermelhidão, inchaço e dor no local com ou sem febre. Geralmente os idosos são os mais acometidos devidos aos seus hábitos higiênicos mais precários.

Para os adultos, e principalmente para aqueles que se depilam, o aparecimento da foliculite está bem correlacionada com o crescimento exacerbado de S. aureus na região depilada, principalmente nas virilhas, pernas e axilas. Se não tratada, a foliculite pode evoluir para um furúnculo que tende a ser maior em tamanho, ocasionado dor aguda no local, sendo quente e produzindo grande quantidade de pus.

Furúnculo

Celulite bacteriana

Foliculite

Impetigo


Porque o Staphylococcus aureus pode ser tão perigoso?

O S. aureus é comensal na nossa pele, ou seja, ele é uma bactéria que reside normalmente no nosso tecido cutâneo. Ele se concentra principalmente em nossas narinas, que são o seu nicho principal. 

Porém, quando o S. aureus cresce desenfreadamente, ele passa a ocasionar problemas ao nosso organismo acometendo principalmente a nossa pele. Entretanto, são os outros riscos que ele pode trazer que são os mais alarmantes. O S. aureus pode provocar um grande conjunto de doenças sistêmicas, tais como bacteremia, meningite, pneumonia e endocardite. Na bacteremia podemos ter algo chamado de coagulação intravascular generalizada, onde  a presença da bactéria pode induzir a formação generalizada de trombos dentro da circulação sanguínea causando o entupimento de artérias importantes podendo provocar infarto agudo no miocárdio, AVCs, insuficiência renal aguda e embolia pulmonar aguda que são fatais e levam à morte. A meningite pode levar à falência o funcionamento do cérebro devido a necrose e ao edema provocado por essa bactéria, sendo fatal se não tratado. A pneumonia é geralmente debilitante, podendo provocar edema pulmonar e parada cardiorrespiratória, além de facilitar o aparecimento da bacteremia. A mortalidade provocada pela pneumonia induzida por S. aureus chega a ser superior a 20%. A endocardite ocorre geralmente após o aparecimento da bacteremia  e pode ser altamente perigosa se há destruição do tecido muscular cardíaco, o que pode provocar infarto e morte aguda. 

Outro grande problema com essa bateria se deve a sua ampla resistência à maioria dos antibióticos utilizados. Antigamente o S. aureus era sensível à penicilina benzatina (benzetacil), mas hoje em dia ele conseguiu se tornar resistente à todas as penicilinas terapeuticamente mais poderosas (amoxicilina, cefalexina, imipenem, meropem, ceftriaxona, flucloxacilina, cefalotina, oxacilina, ampicilina e outras). Além disso, ele também conseguiu adquirir resistência contra outros fármacos que eram de escolha para as cepas resistentes, tais como eritromicina, claritromicina, clindamicina, cotrimoxazol e dentre outros, perfazendo o chamado Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA), que é uma versão mais "evoluída" da bactéria sendo mais nociva e resistente aos antibióticos. 

O chamado Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) que antes estava restrito ao ambiente hospitalar agora está acometendo cada vez mais pessoas que nem se quer chegaram a adentrar um hospital. Pouquíssimos antibióticos conseguem tratar o S. aureus MRSA. A vancomicina, o cloranfenicol e  a daptomicina são um dos poucos que conseguem ter atividade anti-MRSA, e eles são geralmente mais tóxicos e restritos ao uso hospitalar. 

Cientistas explicam que o surgimento do S. aureus MRSA é devido ao mal uso dos antibióticos, onde o seu uso excessivo e indiscriminado acabou criando cepas bacterianas mais resistentes e nocivas. Isso não só aconteceu com o S. aureus, mas também aconteceu com outras bactérias tais como Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae.

Vegetações contendo aglomerados de S. aureus em um coração infartado.


Quais os fatores de risco para o aparecimento de doenças graves provocadas por S. aureus

  • Hábitos de higiene precários
  • Pacientes imunossuprimidos
  • Hábito de cutucar o nariz frequentemente (o principal nicho da bactéria é lá)
  • Feridas na pele que demoram a cicatrizar
  • Cortes profundos e extensos na pele
  • Uso indiscriminado de antibióticos ou o uso prolongado dos mesmos.


Como diminuir as infecções da pele pele S. aureus?

  • Higienizar a pele utilizando sempre sabonetes
  • Se depilar no sentido do pelo, evitando o uso de pomadas ou substancias que tampem os poros cutâneos. Utilizar apenas hidratantes ou substancias aquosas (bem líquidas) que tenham função relaxante para a pele (o ideal mesmo seria apenas aparar ou não se depilar).
  • Utilizar um barbeador de qualidade e que irrite menos.
  • Lavar as mãos sempre que necessário (antes e após usar o banheiro, antes das refeições e quando chegar em casa).