domingo, 10 de dezembro de 2017

HIV: o que você precisa saber.


Sem dúvidas, o HIV é muito temido pelos jovens; mesmo assim, o número de casos tem crescido a cada ano. Segundo um relatório da UNAIDS, cerca de 36,7 milhões de pessoas vivem com o HIV, onde mais de 25 milhões encontram-se na África. A África do Sul é o país com mais pessoas vivendo com o vírus HIV, cerca de 7,2 milhões, correspondendo a mais de 10% da sua população e a mais de 20% da sua população adulta. A Botswana é o país mais afetado em porcentagem, com 36% da sua população convivendo com o vírus.

O Brasil tem cerca de 830 mil que convivem com o vírus HIV (dados de 2016), possuindo uma baixa incidência na população (cerca de 0,4-0,5%) graças ao seu amplo programa de prevenção que inclui testes rápidos, fornecimento da medicação antirretroviral de forma gratuita e acompanhamento médico e psicológico para aqueles que vivem com o vírus.



Vias de transmissão

O vírus HIV é transmitido via sexual, vertical (da mãe para o bebê durante o parto) e por transfusão sanguínea. Lembrando que há uma enorme diferença entre viver com o vírus HIV e ter o quadro clínico da AIDS. A AIDS é o resultado de um longo período de queda na contagem dos linfócitos CD4 (células especializados no auxílio e combate as infecções). A síndrome da imunodeficiência adquirida aparece apenas 8-12 após o contágio. 

Segundo o CDC (Clinical Infectious Diseases) existem diferenças no risco de contaminação dependendo dos meios de risco.

Por meio dos dados do CDC, é notório afirmar que a transfusão sanguínea feita de alguém que possui o vírus para alguém que não o tenha é de fato o maior fator de risco para se adquirir o HIV, havendo a probabilidade de 9.250/10.000 exposições; ou seja, 92,5% de chances.

Abaixo estão listados os fatores de risco e a sua probabilidade de infecção.


  • Transfusão sanguínea: 9.250/10.000
  • Compartilhamento de siringas: 63/10.000
  • Sexo anal com o parceiro sendo o receptivo (passivo): 138/10.000
  • Sexo anal com o parceiro sendo o ativo: 11/10.000
  • Risco via pênis-vagina (risco passado à mulher): 8/10.000
  • Risco via vagina-pênis (risco passado ao homem): 4/10.000
  • Sexo oral ativo ou receptivo: risco baixo (não mensurável).
  • Compartilhamento de brinquedos sexuais: negligenciável.


Como pode-se notar, de todas as práticas sexuais, o sexo anal receptivo ou ativo é a que mais traz riscos quando não se é usado o preservativo. Isso acontece pelo simples fato da mucosa intestinal ser muito fina e bem irrigada pelo sangue, o que facilita o aparecimento de sangramentos no local, promovendo mais facilmente a captação do vírus HIV. Lembrando que escoriações podem ocorrer no tecido vaginal e peniano da mesma no sexo heterossexual, onde o compartilhamento de fluídos e sangue pode acontecer, levando a infecção viral caso um dos parceiros possua o vírus e não esteja fazendo o tratamento. 



Ciclo viral

O vírus HIV é um vírus encapsulado de DNA da família Retroviridae. Sua sobrevivência fora do corpo humano é muito baixa, não durando uma hora completa fora da corrente sanguínea. Sua penetração no organismo se dá por qualquer via que o permita alcançar a corrente sanguínea do hospedeiro. Doenças sexualmente transmissíveis concomitantes, tais como gonorreia ou sífilis, bem como machucados na região genital, facilitam a entrada do HIV. 


O que o HIV pode causar? E qual a diferença entre AIDS e HIV?

O vírus HIV provoca a sua ação de uma forma indireta. Ele ataca e destrói os chamados linfócitos T CD4, que são as células de defesa mais importantes do nosso organismo contra vírus, fungos e bactérias, além de evitar o aparecimento de células malignas que possam se transformarem em câncer. 

Sem os linfócitos T, o seu organismo não consegue estabelecer uma resposta imunológica eficiente contra a invasão por microrganismos, fazendo com que eles proliferem de forma desenfreada, o que faz com que o doente seja acometido por um grande número de doenças infecto-contagiosas as quais não afetariam um indivíduo imunocompetente.

A AIDS nada mais é do que o aparecimento dessas doenças oportunistas. Se elas não aparecerem, o indivíduo apenas possui o vírus em sua corrente sanguínea.


Fases do HIV

O vírus HIV possui três fases: a aguda, a latente e a de AIDS. Cada uma tem as suas particularidades e probabilidades de disseminação. Veja abaixo as fases:


  • Fase aguda (primária): após um indivíduo se infectar com o vírus, ele terá um quadro clínico que pode aparecer após 15 dias ou 30 dias depois da infecção. Na fase aguda o HIV começa a se replicar desenfreadamente, onde a concentração de linfócitos T sanguíneos começam a cair por causa do vírus, provocando um estado de imunodeficiência com a liberação de diversas citocinas imunológicas pelo organismo do hospedeiro. Isso acarretará no aparecimento de sintomas parecidos com o da gripe, tais como a febre, manchas vermelhas no corpo, mal estar e diarreia. Muitas vezes esses sintomas são negligenciados, pois se assemelham com um resfriado/gripe. Nem todos os infectados apresentam esse conjunto de sintomas, podendo apresentar apenas parte deles. É na fase aguda, onde a concentração de vírus HIV está mais elevada, que ocorrem a maior parte das transmissões.


  • Fase de latência: a quantidade de vírus começa a cair após 3 meses, permanecendo constante até o 8º ou 12º ano após a infecção. Nessa fase de latência clínica o indivíduo segue normalmente sem apresentar qualquer sintoma da doença. O nível de transmissão nessa fase é mais baixo se comparado com a fase aguda, porém não é inexistente. Durante esse período, o número de linfócitos T  CD4 inicia um declínio constante. 


  • Fase da AIDS: é a última fase do ciclo do HIV, onde ocorre uma explosão na replicação viral e queda dramática no número de linfócitos T, promovendo o aparecimento de doenças oportunistas, tais como a tuberculose, pneumonias, candidíase oral e genital severas. Além disso, a doença é acompanha por picos febris, sudorese e emagrecimento acentuado. A perda da função renal e da consciência são bastante comuns nas fases avançadas. Geralmente, os pacientes morrem devido as doenças oportunistas, principalmente meningite, tuberculose e pneumonias. 



Porque é tão difícil obter uma cura contra o HIV?

O HIV é um vírus de DNA. Isso quer dizer que para ele poder se replicar e sobreviver, ele precisa se inserir no DNA da célula hospedeira; ou seja, ele se liga no DNA do linfócito T. Quando o seu material genético é inserido dentro da célula, ele fica em um estado de latência, escondido do sistema imune. Adicionalmente, o HIV induz uma resposta débil por parte das outras células do sistema imune (principalmente os linfócitos CD8 e NK), prejudicando a sua erradicação. 


Quais os tratamentos?

Os antirretrovirais são a única terapia anti-HIV, mas eles não eliminam o vírus do organismo, pois o seu DNA fica guardado dentro do linfócito T sob o estado latente; entretanto, eles bloqueiam a transmissão do vírus para as células não infectadas, além de atuar diminuindo a carga viral consideravelmente (ela fica indetectável), fazendo com que a contagem de linfócitos T volte ao normal. 

No Brasil, a combinação diária de tenofovir + lamivudina + dolutegravir é a mais utilizada para o HIV do tipo 1, enquanto que a combinação tenofovir + lamivudina + darunavir + ritonavir é a mais utilizada para o HIV do tipo 2.

Os efeitos adversos são, geralmente, passageiros e são bem limitados, tais como distúrbios gastrointestinais, alucinações, mal estar, depressão e insônia, e ocorrem no inicio do tratamento. A carga viral torna-se indetectável depois de 12-24 semanas; se porventura o paciente tratado abandonar o tramamento, a carga viral voltará a crescer desenfreadamente em um prazo de 10-15 dias. 


Como evitar o HIV?

A grande maioria já sabe que o uso de preservativos, seja o feminino ou o masculino, são um dos meios de prevenção em relação ao HIV. Recentemente, a PrEP, uma terapia antirretroviral que é fornecida para pacientes que não possuem o hiv com o objetivo de evitar a disseminação do vírus já é fornecida pelo SUS. Essa terapia se mostrou tão eficiente quanto a camisinha no quesito prevenção.


Como diagnosticar?

Os testes rápidos são disponíveis em todos os postos de saúde e são ofertados gratuitamente. Eles são também presentes em tendas de grandes eventos festivos como o carnaval.
Vale lembrar que os testes rápidos são baseado na produção de anticorpos anti-HIV, e esses anticorpos só aparecem após um mês da possível infecção. O recomendável, então, é fazê-lo 30 dias após a relação de risco.

O resultado definitivo é apenas confirmado por meio de testes mais sofisticados, tais como o western blot, imunofluorescência indireta, imunoblot ou PRC, que são mais caros e apenas realizados quando os testes de triagem dão positivo.


quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Staphylococcus aureus: uma ameaça que você deveria conhecer

Dificilmente você deve ter ouvido falar dele, mas o Staphylococcus aureus é uma bactéria que está e estará presente até o final de nossas vidas. A bactéria em si você pode não conhecer, mas com certeza já conhece algumas das doenças que ela pode provocar.

Na infância é bem comum o aparecimento de infecções cutâneas provadas pelo S. aureus. O impetigo bolhoso e o não bolhoso é uma delas e geralmente acontece durante a infância, onde o aparecimento de bolhas purulentas, dor no local e machas vermelhas com o aparecimento de crostas em um padrão que afeta mais as regiões da face, braços e peitos, dão fortes indícios do acometimento do indivíduo por essa doença. A febre nesse caso pode ou não aparecer, mas geralmente é branda.

A celulite é uma outra doença provocada por essa bactéria, sendo mais profunda, produzindo vermelhidão, inchaço e dor no local com ou sem febre. Geralmente os idosos são os mais acometidos devidos aos seus hábitos higiênicos mais precários.

Para os adultos, e principalmente para aqueles que se depilam, o aparecimento da foliculite está bem correlacionada com o crescimento exacerbado de S. aureus na região depilada, principalmente nas virilhas, pernas e axilas. Se não tratada, a foliculite pode evoluir para um furúnculo que tende a ser maior em tamanho, ocasionado dor aguda no local, sendo quente e produzindo grande quantidade de pus.

Furúnculo

Celulite bacteriana

Foliculite

Impetigo


Porque o Staphylococcus aureus pode ser tão perigoso?

O S. aureus é comensal na nossa pele, ou seja, ele é uma bactéria que reside normalmente no nosso tecido cutâneo. Ele se concentra principalmente em nossas narinas, que são o seu nicho principal. 

Porém, quando o S. aureus cresce desenfreadamente, ele passa a ocasionar problemas ao nosso organismo acometendo principalmente a nossa pele. Entretanto, são os outros riscos que ele pode trazer que são os mais alarmantes. O S. aureus pode provocar um grande conjunto de doenças sistêmicas, tais como bacteremia, meningite, pneumonia e endocardite. Na bacteremia podemos ter algo chamado de coagulação intravascular generalizada, onde  a presença da bactéria pode induzir a formação generalizada de trombos dentro da circulação sanguínea causando o entupimento de artérias importantes podendo provocar infarto agudo no miocárdio, AVCs, insuficiência renal aguda e embolia pulmonar aguda que são fatais e levam à morte. A meningite pode levar à falência o funcionamento do cérebro devido a necrose e ao edema provocado por essa bactéria, sendo fatal se não tratado. A pneumonia é geralmente debilitante, podendo provocar edema pulmonar e parada cardiorrespiratória, além de facilitar o aparecimento da bacteremia. A mortalidade provocada pela pneumonia induzida por S. aureus chega a ser superior a 20%. A endocardite ocorre geralmente após o aparecimento da bacteremia  e pode ser altamente perigosa se há destruição do tecido muscular cardíaco, o que pode provocar infarto e morte aguda. 

Outro grande problema com essa bateria se deve a sua ampla resistência à maioria dos antibióticos utilizados. Antigamente o S. aureus era sensível à penicilina benzatina (benzetacil), mas hoje em dia ele conseguiu se tornar resistente à todas as penicilinas terapeuticamente mais poderosas (amoxicilina, cefalexina, imipenem, meropem, ceftriaxona, flucloxacilina, cefalotina, oxacilina, ampicilina e outras). Além disso, ele também conseguiu adquirir resistência contra outros fármacos que eram de escolha para as cepas resistentes, tais como eritromicina, claritromicina, clindamicina, cotrimoxazol e dentre outros, perfazendo o chamado Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA), que é uma versão mais "evoluída" da bactéria sendo mais nociva e resistente aos antibióticos. 

O chamado Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) que antes estava restrito ao ambiente hospitalar agora está acometendo cada vez mais pessoas que nem se quer chegaram a adentrar um hospital. Pouquíssimos antibióticos conseguem tratar o S. aureus MRSA. A vancomicina, o cloranfenicol e  a daptomicina são um dos poucos que conseguem ter atividade anti-MRSA, e eles são geralmente mais tóxicos e restritos ao uso hospitalar. 

Cientistas explicam que o surgimento do S. aureus MRSA é devido ao mal uso dos antibióticos, onde o seu uso excessivo e indiscriminado acabou criando cepas bacterianas mais resistentes e nocivas. Isso não só aconteceu com o S. aureus, mas também aconteceu com outras bactérias tais como Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae.

Vegetações contendo aglomerados de S. aureus em um coração infartado.


Quais os fatores de risco para o aparecimento de doenças graves provocadas por S. aureus

  • Hábitos de higiene precários
  • Pacientes imunossuprimidos
  • Hábito de cutucar o nariz frequentemente (o principal nicho da bactéria é lá)
  • Feridas na pele que demoram a cicatrizar
  • Cortes profundos e extensos na pele
  • Uso indiscriminado de antibióticos ou o uso prolongado dos mesmos.


Como diminuir as infecções da pele pele S. aureus?

  • Higienizar a pele utilizando sempre sabonetes
  • Se depilar no sentido do pelo, evitando o uso de pomadas ou substancias que tampem os poros cutâneos. Utilizar apenas hidratantes ou substancias aquosas (bem líquidas) que tenham função relaxante para a pele (o ideal mesmo seria apenas aparar ou não se depilar).
  • Utilizar um barbeador de qualidade e que irrite menos.
  • Lavar as mãos sempre que necessário (antes e após usar o banheiro, antes das refeições e quando chegar em casa).


segunda-feira, 10 de julho de 2017

Hipotiroidismo: como identificar?

O hipotireoidismo é uma doença geralmente silenciosa que pode ou não ser sintomática. Estudos feitos no Brasil mostram uma prevalência girando em torno de 4-8%, afetando mais as mulheres do que os homens. A doença pode trazer complicações principalmente para o sistema circulatório e neuronal, tendo elevado índice de morbidade se não tratada.

O hipotireoidismo ocorre quando a tireoide produz pouco T4 (tiroxina), o principal hormônio tireoidiano. Ou quando a produção está na dentro dos limites, porém acorre um aumento na produção do hormônio TSH. O diagnóstico de hipotireoidismo é clínico e laboratorial, ou seja, as reclamações ouvidas do pacientes juntamente com o resultado dos exames atestam o hipotireoidismo. 

Apenas 50% dos brasileiros sabem que tem a doença e fazem tratamento. Em populações como a idosa e a infanto-juvenil, a porcentagem dos que desconhecem ou não fazem nenhum tratamento muito mais elevada.


Função da tireoide e regulação dos seus hormônios.

A tireoide é um órgão situado na frente da laringe, no pescoço, sendo responsável pela produção de tiroxina (T4) e em menor escala da triodotironina (T3). A produção desses hormônios é controlado por mecanismos do tipo feedback

À nível cerebral, a pituitária (uma pequena glândula localizada no cérebro do tamanho da cabeça de um alfinete) produz um hormônio chamado TSH (Thyroid Stimulating Hormone). O TSH estimula a tireoide a produzir e a liberar os hormônios T4 e T3, sendo que o T4 é o mais liberado (cerca de 75% do volume). Na circulação sanguínea, o T4 é convertido em T3, que é a forma biologicamente ativa do hormônio.

No organismo o T3 tem uma meia-vida curtíssima e promove profundas mudanças biológicas, principalmente metabólicas, tais como aumento da temperatura, da frequência cardíaca, da pressão sanguínea, queda nos nível de colesterol e lipídios, queda no peso, melhora no humor e no nível de atenção, aceleração do processo de digestão e dentre outros. Quando ocorre uma diminuição nos níveis de T3, o organismo passa a sofrer um grande número de problemas metabólicos.



Diagnóstico do hipotireoidismo. 

O hipotireoidismo é diagnosticado pela junção das reclamações clínicas do paciente e por resultados laboratoriais. No nível clínico, o paciente geralmente reclama de intolerância ao frio, prisão de ventre, sono durante o dia, pele seca, sensação de cansaço constante, ansiedade, depressão, aumento de peso e inchaço. Geralmente o colesterol e o LDL (mal-colesterol) encontram-se elevados e os batimentos cardíacos diminuídos (bradicardia). 

Ao exame laboratorial, os níveis de TSH encontra-se elevados (acima de 4,5 mU/L) e os níveis de T4 estão baixos (abaixo de 1,4 mU/L), podendo assim ser chamado de hipotireoidismo evidente. Existe também o hipotireoidismo subclínico, que é aquele ao qual o paciente tem poucos sintomas e os níveis de T4 estão normais, porém os níveis de TSH encontra-se elevados. No hipotiroidismo subclínico a pituitária tenta produzir muito TSH para que os níveis de T4 não fiquem abaixo do normal, mas às vezes isso nem é o suficiente para evitar a queda, provocando dessa forma o chamado hipotireoidismo evidente, como mencionado anteriormente. 

Uma das principais causas de hipotireoidismo é o ataque auto-imune da tireoide pelas nossas próprias células de defesa ocasionando uma perda total/parcial da tireoide, sendo permanente na maioria das vezes. Por isso muitos médicos pedem exames complementares como o aTPO (anticorpos antitireoperoxidase) e o aTg (antitireoglobulina) para confirmar se a doença é auto-imune. Ela pode ser idiopática (sem causa definida) ou após alguma infecção bacteriana ou viral das vias aéreas.



A segunda maior causa é devido a baixa ingestão de iodo na dieta. O iodo é essencial para a produção dos hormônios tireoidianos e sem ele, não há produção de T3 e T4. Uma característica da deficiência de iodo é o bócio, que é um aumento da tireoide caracterizado por baixas concentrações de iodo e hormônios tireoidianos e uma alta concentração de TSH. O bócio é visível e facilmente diagnosticado, mostrando uma protuberância evidente na região do pescoço. O tratamento é simples, feito à base de suplementação com o iodo. Geralmente o iodo já vem suplementado em diversos alimentos, e no Brasil ele é encontrado principalmente no sal de cozinha, sendo naturalmente encontrado em algas marinhas, peixes e leite. Porém, o excesso de iodo na dieta também pode provocar o hipotireoidismo auto-imune por um mecanismo ainda desconhecido. Então nem devemos ter o iodo em baixa e nem em excesso, obtendo apenas a faixa ideal de sua concentração.

Mulher com bócio evidente


Por vezes o médico pode solicitar um exame para avaliar a concentração de iodo por meio de coleta de urina para verificar se há uma deficiência ou uma hiper suplementação desse mineral.


Tratamento

O tratamento é bem simples e muito eficaz, com resultados sendo alcançados com no máximo um mês de terapia. A substituição hormonal é o único tratamento para aqueles que sofrem com o hipotireoidismo, sendo a tiroxina (T4) o hormônio de escolha. O uso da triodotironina (T3) não é recomendada devido a ausência de comprovada eficácia e o uso de múltiplas doses diárias. A combinação entre T4 e T3 é raramente usada, e quando usada, trata casos peculiares e refratários de hipotireoidismo. O objetivo do tratamento é a diminuição dos sintomas clínicos e o retorno aos níveis normais de TSH, T4 e T3. Geralmente, os sintomas cognitivos tais como cansaço, depressão, ansiedade e perda de memória levam um pouco mais de tempo para desaparecerem em alguns pacientes, porém eles apresentam melhoras significativas ao início da terapia.


O que acontece se eu não tratar?

Devido as alterações vasculares e o aumento na carga de lipídeos e colesterol, pacientes com hipotireoidismo estão mais predispostos a terem infartos cardíacos e derrames cerebrais bem como problemas renais, tais como insuficiência renal. A predisposição ao diabetes é maior nesses pacientes. O desenvolvimento da depressão pode ser um dos fatores que mais comprometem a qualidade de vida do doente, sendo resistente se não tratada. A diminuição em outras habilidades cognitivas tais como a memória pode ser significativa. Quando o hipotireoidismo ocorre na infância, esse terá que ser tratado urgentemente, pois o hipotireoidismo é associado com retardo mental.


domingo, 2 de julho de 2017

A obesidade na infância pode prejudicar o desenvolvimento sexual masculino pré-púbere.

A obesidade infantil tem se tornado um problema cada vez mais real e está abrangendo um número cada vez maior de crianças. Sedentarismo, vida virtual e fast-foods são os três pilares para essa epidemia de obesidade infantil. 

Nos EUA, 17,4% das crianças entre 2-10 anos são consideradas obesas, ou seja, mais de 8 milhões de crianças. O sobrepeso afeta aproximadamente 33,4% dessas crianças, atingindo quase 20 milhões delas, de acordo com dados coletados entre 2013-14, sendo uma das taxas mais elevadas do mundo. No Brasil, a obesidade infantil cresceu 10 vezes nos últimos dez anos, e é agora um problema de saúde pública. Cerca de 15% das crianças brasileiras já são consideradas obesas (taxa bem próxima à americana), sendo a região Sudeste a mais obesa do país, com 38,8% das crianças entre 5-9 anos já consideradas acima do peso, seguida pela região Sul, com 35.9%.

O excesso de gordura traz diversas comorbidades, tais como triglicerídeos e LDL altos, HDL baixo, risco de infarto e surgimento do diabetes, restrições na mobilidade, dores articulares, problemas respiratórios, apneia do sono, depressão e dentre outros. E quanto mais cedo a obesidade surge, mas cedo os problemas relativos a ela tenderão a aparecer.

Nos garotos, a obesidade pode fornecer um fator prejudicial adicional, impedindo o seu completo desenvolvimento sexual. 



Durante a pré-puberdade os níveis de testosterona sobem, provocando mudanças radicais no corpo do homem, tais como o aparecimento de pelos no corpo (na barba, axilas, peito, púbis etc.), engrossamento da voz, aumento do apetite sexual e agressividade, desenvolvimento do pênis, início da produção de espermatozoides, aumento do tônus muscular e desenvolvimento ósseo acarretando em um crescimento rápido.

Em garotos obesos, os níveis de testosterona permanecem abaixo do normal, sendo inversamente proporcionais à obesidade. Ou seja, quanto mais obesa a criança for, menos testosterona circulante ela terá. Os cientistas tem diversas explicações para esse fenômeno, sendo uma delas o fato de que a testosterona é um hormônio lipofílico. Isso quer dizer que a testosterona tem afinidade por gordura e fica preso na massa adiposa ao invés de ficar na circulação sanguínea. Outro fato é o de que o tecido adiposo na região da barriga tem uma enzima chamada de aromatase que converte a testosterona em estrógenos, que são um grupo de hormônios feminilizantes. Então, quanto mais obesa uma criança for, mais ela produzirá a enzima aromatase, e consequentemente mais testosterona será gasta para se produzir os estrógenos, fazendo com que haja pouca testosterona na circulação. Além disso, os estrógenos inibem a produção endógena de testosterona por meio de um efeito inibitório.




Os efeitos nos garotos na idade pré-púbere são evidentes, tais como o atraso no desenvolvimento sexual, bem como um baixo crescimento do pênis e a permanência das características infantis por um período de tempo mais longo. Quando o desenvolvimento sexual acontece, ele nunca é completo. Na questão da estatura, ocorre um efeito duplo: sem a testosterona os ossos não desenvolvem direito e a força da gravidade exercida pelo excesso de peso tende a comprimir os ossos, impedindo que eles cresçam. 

Nessas condições, o ideal é o acompanhamento médico e com um nutricionista, para a produção de uma dieta e de uma rotina de exercícios físicos para o adolescente. Durante o emagrecimento, os níveis de testosterona tendem a crescer até ficarem restaurados, possibilitando o completo desenvolvimento sexual do adolescente em fase pré-puberdade.  Isso ocorre porque mais testosterona está sendo liberada do tecido adiposo juntamente com a queda da atividade da enzima aromatase, fazendo com que menos testosterona se transforme em estrógenos, e impedindo os efeitos inibitórios do estradiol sobre a produção de testosterona.

Os baixos níveis de testosterona não só afetam os garotos obesos, afetando também aqueles em idade adulta. A obesidade é a segunda maior causa de hipogonadismo secundário em homens, levando a baixa circulação de testosterona. E como sublinhado anteriormente, uma dieta acompanhada de exercícios físicos tende a restaurar os níveis normais de testosterona no organismo.

terça-feira, 27 de junho de 2017

Você sabe para quem doar sangue ou de quem você pode receber?

O sangue é um líquido viscoso composto por células e diversos tipos de micro e macromoléculas. O sangue é, sem dúvidas, o transporte para a grande maioria dos nutrientes e oxigênio que o nosso corpo necessita, assim como é um meio de saída dos produtos indesejáveis excretados pelas nossas células. Dentre os principais compostos do nossos sangue  nós temos a glicose e o oxigênio, que são essenciais para o metabolismo celular, as partículas de triglicerídios, colesterol, as hemácias, o fibrinogênio, a água e as nossas células de defesa. Se a nossa circulação parasse subitamente, todo o nosso corpo iria à falência por falta de nutrientes, afetando principalmente os órgãos que mais dependem do fluxo sanguíneo como o coração, cérebro, fígado e rins.

As nossas hemácias compõe o mais numeroso grupo de células do nosso sangue e tem como função o transporte de oxigênio para os tecidos, regulação do pH e controle da pressão sanguínea. E são essas células as determinantes quando o assunto é doação de sangue. Cada hemácia possui um grupo de antígenos do conjunto ABO e Rh. As nossas células de defesa apenas reconhecem as hemácias com antígenos iguais as do hospedeiro. Ou seja, se uma hemácia tem o antígeno A, as nossas células de defesa só reconhecerão outra com o mesmo antígeno A.

Mas o que acontece se o sangue é doado entre duas pessoas com tipos sanguíneos diferentes? Se uma pessoa com o tipo A+ resolve doar para alguém do tipo B+,  as células de defesa do organismo - mediadas principalmente pela excreção anticorpos - irão atacar as hemácias com o tipo sanguíneo estranho, sendo representadas, neste exemplo, pelo tipo A+ que é estranho ao individuo do tipo B+. Quando as hemácias são atacadas, elas são hemolisadas (destruídas) em massa, acarretando em perda do transporte de oxigênio, vasodilatação generalizada com queda de pressão, urina escura devido a excreção em massa da hemoglobina das hemácias, febre, mal-estar, insuficiência renal, taquicardia e entupimento súbito de vasos que podem acarretar em morte.


Grupos sanguíneos

  • Tipo O negativo: esse tipo sanguíneo não tem nenhum antígeno em suas hemácias, nem do sistema ABO e nem do Rh, sendo considerado o tipo sanguíneo universal, podendo ser doado para pessoas de todos os tipos, pois nunca serão reconhecidos como estranhos ao organismo de quem quer que seja. Mas, esse tipo sanguíneo é o pior de todos para receber sangue, pois o sangue de quem tem O- não reconhece o antígeno de nenhum outro tipo sanguíneo, fazendo com que ele só receba de outro O negativo.
  • Tipo O positivo: esse tipo sanguíneo é considerado "semi-universal", pois ele pode ser doado para todos os tipos sanguíneos que são Rh+ (A+, B+, AB+ e O+). Apenas o próprio tipo O+ e o O- podem ser doados para pessoas com esse tipo sanguíneo, fazendo dele o segundo pior tipo sanguíneo para se receber transfusões.
  • Tipo A negativo: ele poderá ser doado apenas para aqueles que possuem o antígeno A e para ambos os fatores de Rh, tais como o A-, AB-, A+ e AB+. Contudo, quem tem o tipo sanguíneo A- só pode receber de A- e O-, sendo tão pior quanto o O+ para receber transfusões de sangue. 
  • Tipo A positivo: ele pode ser doado para A+ e AB+, podendo receber transfusões de O-, A-, A+ e O+
  • Tipo B negativo: ele pode ser doado para todos os tipos B e AB, independente do fator de Rh. Ou seja, para B+, AB+, B- e AB-, enquanto que recebe apenas de O- e B-, sendo um outro tipo sanguíneo com limitada cobertura para receber transfusões. 
  • Tipo B positivo: pode doar apenas para B+ e AB+. Ele pode receber transfusões de O-, O+, B+ e B-.
  • Tipo AB negativo: esse só pode ser doado para o grupo AB, seja Rh positivo ou negativo (AB+ e AB-). Como receptor, esse tipo sanguíneo pode receber de todos os sangues Rh+, ou seja, do O+, A+, B+ e AB+, sendo o segundo melhor tipo sanguíneo receptor.
  • Tipo AB positivo: esse apenas pode doar para quem é AB+, ou seja, é um péssimo doador. Porém, ele pode receber de todos os tipos sanguíneos, sendo o melhor receptor. 


Na tabela abaixo nós temos um resumo da compatibilidade sanguínea.




Fator Rh e gravidez

Outro fator importante é o Rh durante a gravidez. Mulheres que são Rh negativas podem ser reativas aos seus filhos quando estes são Rh positivos. Isso porque a mãe Rh negativa não reconhece o antígeno Rh positivo do filho, fazendo com que as suas células de defesa tentem atacar o feto.

Esse problema não é registrado durante a primeira gestação, onde a gravidez de uma mãe negativa com o seu feto positivo não acarretará em problemas. Mas durante o parto, o sangue do bebê se misturar ao materno, fazendo com que as células de defesa da mãe se tornem sensibilizadas e prontas para reagir à uma próxima gravidez (segundo filho). Se ela não tomar a vacina anti-Rh em até no máximo 72 horas após o parto, o segundo filho poderá sofrer uma ataque mediado por anticorpos maternos durante o seu nascimento, causando a chamada eritroblastose fetal, que é a destruição das hemácias do recém-nascido, sendo fatal na maioria das vezes.

Geneticamente, se um paí é Rh negativo e a mãe também o é, o filho será negativo também. Se o pai e a mãe forem positivos, o filho também nascerá positivo.

Em pais com o Rh divergente, onde o pai é negativo e a mãe é positiva, o filho nascerá ou com o negativo ou positivo, não havendo problemas.  Mas se o pai é negativo e a mãe positiva, o filho poderá nascer positivo (o que não reagiria) ou negativo (causando a reação).



Para descobrir o seu tipo anguíneo e o seu fator de Rh, basta ir em qualquer laboratório solicitando o exame de tipagem sanguínea, que é rápido e só utiliza uma única gota de sangue, custando entre R$ 3,00 - 10,00.


terça-feira, 20 de junho de 2017

Quais os riscos de se usar anabolizantes?

Ter um corpo ideal é algo constantemente imposto pela sociedade. Desde sempre, ter um corpo bonito sempre esteve à frente da saúde, e querendo ou não, a grande maioria das pessoas não vão para academia procurando um estilo de vida mais saudável, e sim ter um corpo atraente e bonito à qualquer preço.

Uma infinidade de suplementos e energéticos parecem não satisfazerem uma crescente população que procura as academias e querem atingir o corpo ideal pelo menor tempo e esforço possível. Os anabolizantes entram nessa história ao promoverem um verdadeiro sonho: um corpo bem trabalhado em pouco tempo. Porém, eles impõe um preço que às vezes não vale à pena.

Nos Estados Unidos há um controle rígido da venda de anabolizantes, assim como há no Brasil. Porém em ambos os países é fácil conseguir hormônios que promovem o crescimento da massa muscular. Se uma empresa americana não pode vender um anabolizante dentro do país porque ele é proibido, ela o fará vendendo para outros países como o Brasil, já que isso não fere a legislação americana. Ele poderá ser obtido facilmente via internet por qualquer brasileiro. Nos EUA todos os anabolizantes devem ser prescritos por um médico após sublinhada necessidade por parte do paciente. Aqueles que obtém os anabolizantes de forma ilegal, os conseguem por meio da internet, onde a maioria dos hormônios vem da Rússia e de alguns países da Europa oriental, como a Bulgária. Outros meios incluem extravios em hospitais e a obtenção de receitas com amigos médicos. O Brasil copia todas as táticas que os americanos, e os hormônios ilegais são obtidos principalmente dos EUA  e da Rússia.




  • Anabolizantes designers (designer steroids)

Uma prática perigosa tem crescido nos EUA e no Brasil, onde os chamados anabolizantes designers estão sendo incorporados indiscriminadamente em suplementos afim de promoverem o crescimento muscular de forma ilegal. Um anabolizante designer é uma substancia derivada de outro anabolizante que foi pesquisado e desenvolvido por laboratórios de diversas partes do mundo, porém a sua pesquisa foi abandona por motivos de toxicidade, desinteresse ou queda no investimento de pesquisa. Essas substancias não são proibidas porque a maioria das agências reguladoras nem ao menos sabem da existência delas para poderem proibi-las, então por esse motivo muitas indústrias as utilizam porque elas configuram como "legais" já que não houve nenhuma sanção contra elas. Geralmente essas substancias vieram de antigos laboratórios da Itália, Alemanha Oriental ou União Soviética. Essas substâncias continuam como "legalizadas" até que alguma agência reguladora proíba o seu uso. 

As substâncias mais utilizadas são: methoxygonadiene, dimethazina, methylclostebol, mentabolan, methylepitiostanol e methylstenbolone. Essas substâncias jamais passaram por testes clínicos e até mesmo são apenas utilizadas em animais. Há nenhuma aplicação terapêutica ou recomendação para o uso das mesmas. Então, se você utiliza quaisquer suplementos contendo essas substâncias, encerre o uso, pois os danos são nefastos e a maioria deles ainda são desconhecidos.

  • Anabolizantes legalizados

Os anabolizantes podem ser utilizados terapeuticamente para uma infinidade de doenças, desde que estejam sob prescrição médica. Hipogonadismo, emagrecimento repentino provocado pelo HIV, utilização em pacientes com queimaduras graves e indivíduos com sarcopenia.

Em pacientes com hipogonadismo, ou seja com baixos níveis de testosterona, o papel dos anabolizantes é o de completar o amadurecimento sexual, com o engrossamento da voz, aparecimentos de pelos, ganho de massa muscular, desenvolvimento genital e dentre outros. Em pacientes com alta demanda metabólica, como daqueles que sofreram graves queimaduras, os anabolizantes ajuda o organismo a evitar a degradação do músculo com o intuito de utilizar os seus componentes para repor a pele. No paciente com emagrecimento súbito com HIV o hormônio ajuda a evitar a perda de massa muscular e a promover o seu ganho. Nos pacientes com sarcopenia (fraqueza muscular provocada pela velhice) o anabolizante auxilia no ganho de tônus e diâmetro das fibras musculares.

Todos o tratamento deve ser prescrito por um médico que fornecerá o hormônio por meio de ciclos de aplicação. O uso de anabolizantes é seguro em até um 1 ano de terapia, sendo que após esse período iniciam-se os efeitos indesejáveis do anabolizante. Apenas o hipogonadismo pode ser tratado por um período de tempo indefinido.

Os anabolizantes geralmente tem efeitos de curto e longo prazo, que deverão ser pesados conforme as propriedades farmacológicas de cada um. Existem três classes de anabolizantes, que serão descritas a seguir.

Vale lembrar que a maioria dos efeitos adversos indesejáveis dos anabolizantes vem dos efeitos masculinizantes que são diidrotestosterona-like.

Derivados da testosterona: são um conjunto de anabolizantes que tem ações iguais as da testosterona, ou seja, eles tem tanto ação anabólica (de crescimento muscular) como andrógena (masculinização), sendo substrato das enzimas 5-alfa-redutase, produzindo substancias similares a diidrotestosterona, o principal hormônio responsável pelas características masculinizantes, e eles são também substrato da enzima aromatase, localizada principalmente no tecido adiposo, produzindo os indesejáveis estrógenos. Eles são administrados por via oral, diferentemente dos outros que são por via injetável. Mas todos os que são administrados por via oral são também aquilados no carbono 17, provocando dessa forma um significativo dano hepático, que às vezes pode ser fatal. A metiltestosterona, fluoximesterona e metandrostenolona são os principais exemplos dessa classe.

Derivados da nandrolona: são um conjunto de anabolizantes com poucos efeitos masculinizantes, tendendo mais a terem efeitos anabólicos, ou seja, do crescimento do músculo. São mais bem tolerados e possuem bem menos efeitos adversos se comparado com outras classes. A nandrolona é o principal representante dessa classe, sendo o anabolizante ilegal mais utilizado ao redor do mundo devido aos poucos efeitos adversos, pouca masculinização e maior tolerância. Trembolona é outro representante, porém não é tão eficaz quanto a nandrolona no que diz respeito aos efeitos anabólicos. Eles não causam efeito tóxico ao figado por não serem alquilados no C-17.

Derivados da diidrotestosterona: são os anabolizantes com maior efeito anabólico e com certo efeito andrógeno, e eles se assemelham ao hormônio diidrotestosterona, o que impossibilita a sua conversão em estrógenos. A oxandrolona é o principal representante, onde ela não sofre metabolização pela aromatase e tem poucos efeitos masculinizantes (androgênico), sendo um ótimo hormônio anabólico. O estanozolol é um outro representante da classe. A oximetolona, outro fármaco dessa classe, é tido como carcinogênico.

Efeitos de curto prazo.

No curto prazo todas as três classes de anabolizantes tem os mesmo efeitos, variando apenas na potência dos mesmos. O efeito anabólico é similar em todos. Com a masculinização sofrendo variações, onde o aparecimento de pelos em regiões que antes não haviam, aumento do apetite sexual e aumento da raiva são os efeitos masculinizantes de curto prazo visto em homens e em mulheres. Nas mulheres, em particular, nós temos o engrossamento da voz e o parecimento de barba, além de acne nas costas e ao redor do peito, bem como no rosto. Os efeitos masculinizantes são vistos principalmente nos derivados da testosterona, sendo os menores possíveis com os derivados da nandrolona. 

Efeitos de longo prazo.

No longo prazo os efeitos são mais severos, principalmente se não há acompanhamento médico. Esses efeitos são mais classe-dependente. 

  • Dano hepático: ele é comum à todos os anabolizantes alquilados na posição C-17, ou seja, todas aqueles que podem ser ingeridos via oral. A oxandrolona é o que tem menos efeitos hepatotóxicos, sendo o seu uso considerado seguro, mas isso não dispensa uma observação clínica mais de perto. Já os outros fármacos alquilados podem provocar dano hepático mais sério, porém reversível. Os efeitos são mais nefastos quando são usados anabolizantes como a metiltestosterona e a oximetolona que são carcinogênicos e são associados à carcinomas hepatocelulares. O risco é tempo-dependente, ou seja, por quanto mais tempo se usar, maior será a probabilidade de adquiri-los. 


  • Infarto: esse é comum a todos os anabolizantes. Tendo em vista que o coração é um músculo, todos os anabolizantes tem a capacidade de fazê-lo crescer à longo prazo. O efeito é mais pronunciado naqueles que são mais fortemente anabolizantes, como a nandrolona e a oxandrolona. Esse efeito é tempo-dependente.


  • Trombose: os anabolizantes tem a capacidade de aumentar a agregação plaquetária e de diminuírem o HDL (colesterol bom) enquanto aumentam os níveis de LDL (colesterol ruim), promovendo a formação de trombos e placas de gordura nas artérias podendo provocar infartos e derrames. 


  • Insuficiência renal: ela só aparece como resultado do crescimento do coração. Quando o coração encontra-se crescido e com pouca força de contração (a chamada insuficiência cardíaca crônica) menos sangue é enviado para os rins, acarretando em insuficiência renal crônica, que no longo prazo pode ser fatal e pode exigir um transplante renal e cardíaco ao mesmo tempo.


  • Hipogonadismo: é um quadro clínico acompanhado por baixa produção endógena de testosterona, acarretando em atrofia dos testículos, depressão, calvice, infertilidade, retensão de líquidos, hipertensão devido a retenção de sódio, crises de raiva e ansiedade, osteoporose e diminuição do libido. Na maioria dos casos ela é reversível, porém em alguns ela pode se tornar cronica e irreversível. Em mulheres o excesso de anabolizantes pode provocar um crescimento exagerado do clítoris, que pode triplicar de tamanho, chegando a medir 7 cm. O crescimento clitoriano é irreversível na maioria dos casos e o clítoris avantajado pode danificar as vias nervosas responsáveis pelo prazer devido ao esmagamento dessas fibras pelo tamanho exagerado. Os derivados da testosterona são os que mais causam esses efeitos adversos, devidos as suas propriedades altamente masculinizantes (andrógenas).


  • Ginecomastia: é o crescimento das mamas provocado pelo excesso de estrógenos produzidos pela conversão dos anabolizantes pela enzima aromatase. Esse efeito é muito pronunciado nos derivados da testosterona, sendo pequeno nos derivados na nandrolona e ausente nos derivados da diidrotestosterona. Esse efeito pode ser irreversível em alguns homens. 

Minoxidil é eficiente nas "entradas" da calvice?

A calvice é um problema que incomoda muitos homens e até mesmo algumas mulheres. Mesmo não sendo um acometimento grave, ela tem profundas influências no quesito emocional, de bem-estar e social, levando milhões de homens ao redor do mundo a procurarem alternativas para reverter a calvice, e, quem sabe, preveni-la. A maior parte dos homens e mulheres calvos ao redor do mundo vem de causa hereditária, sendo uma minoria deles derivados do uso de substâncias tóxicas nos cabelos, doenças específicas, tais como certos tipos de cânceres ou a inalação e/ou ingestão de tóxicos.

A industria farmacêutica tem investido bilhões de dólares a cada ano buscando a cura para a calvice, ou mesmo a produção de medicamentos mais eficientes no seu combate, porém os resultados tem se demonstrado insatisfatórios dado ao montante investido.


  • Componente hereditário.

A calvice é geneticamente dominante nos homens e nas mulheres, sendo que em homens ela dominante homozigota e heterozigota, enquanto que nas mulheres ela é dominante homozigota, apenas. Isso quer dizer que, homens com o alelo CC e Cc são calvos por terem o alelo dominante representado pelo "C" maiúsculo, enquanto que as mulheres serão calvas apenas se elas tiverem ambos os alelos dominantes, ou seja, "CC".

Então, se um homem e uma mulher são calvos, eles sempre terão um filho homem calvo (100%) e grandes chances de terem uma filha calva também (75% de chance).

Se a mãe for calva e o pai não, todos os filhos homens serão calvos (100%) e nenhuma filha será calva (0%),

Se o pai for calvo e a mãe não for calva, grande parte dos filhos homens (75%) e a minoria das filhas (18,75%) serão calvos. 

Se nem o pai e nem a mãe são calvos, uma pequena parte dos filhos homens (25%) e nenhuma mulher (0%) serão calvos. 

Veja a tabela abaixo a combinação dos alelos da calvice:



Quando se trata de calvice, as chamadas "entradinhas" (formalmente chamada de calvice frontal) são as que mais incomodam, principalmente os jovens entre 18-26 anos. Elas sem dúvidas são o primeiro sinal de calvice, mas também podem estar relacionadas ao formado da cobertura capilar mais do que a calvice propriamente dita. Porém, da mesma forma, ela incomodam muito. Infelizmente o arsenal  terapêutico para o tratamento da calvice é escasso, mesmo com avanço em pesquisas e a disponibilidade de diversos produtos que prometem reverter a miniaturização e queda dos fios. Para se ter uma ideia, o FDA, a agência americana que regula a venda de medicamentos no EUA, aprovou apenas o minoxidil e a finasterida como medicamentos realmente eficazes no tratamento da calvice, sendo o mesmo adotado pela agência nacional, a ANVISA. Outros medicamentos comercializados para essa finalidade podem também ser eficazes, de fato, porém eles precisam passar por mais estudos clínicos de eficácia e toxicidade.

O minoxidil é uma das ferramentas mais utilizadas no combate da calvice em todo o mundo, sendo indicado principalmente para calvice na região superior parietal, que é onde está localizado a parte superior da nossa cabeça. Esse medicamento foi aprovado pelo FDA apenas em 1998, sendo utilizado para a mesma finalidade muito antes da aprovação final pela agência reguladora americana.

Curiosamente, há diferenças enormes entre os folículos capilares espalhados ao redor da nossa cabeça, sendo o folículos capilares das regiões occipital e parietal lateral os menos susceptíveis à calvice, ou seja, os cabelos atrás e nas laterais dificilmente irão sofrer os efeitos nefastos da testosterona. Isso porque essas regiões tem poucas enzimas para a conversão da testosterona em diidrotestosterona, o hormônio chave na indução da calvice.

Nas áreas já calvas, ou com tendências a serem calvas, há diferenças bioquímicas importantes, onde as chamadas "entradas" respondem menos ao minoxidil do que a região superior da cabeça (o vértice da cabeça). Muitos estipulam que o componente que causa a calvice nas entradas (região frontal) está mais relacionando a um componente inflamatório crônico, onde as prostaglandinas exercem um papel crucial, diferentemente das outras áreas calvas. Com isso, a atuação do minoxidil é diminuída nessas áreas, porém não é ausente. Foi constatado que o minoxidil faz crescer pelos nessa região, porém de forma mais demorada e menos eficiente se comparada com a região do vértice calvo.

Até o momento, apenas a finasterida se mostrou eficiente para tratar a região das entradas da calvice nos homens por meio do bloqueio da enzima 5-alfa redutase do tipo 2, impedindo a conversão da testosterona em direção a temida diidrotestosterona.

Padrão de calvice masculino: o vértice do crânio e a fronte dele são as áreas mais afetadas.





segunda-feira, 19 de junho de 2017

Você sabia que todo medicamento tem um preço máximo?

Sem a menor sombra de dúvidas os medicamentos transformaram-se em uma ferramenta onipresente no tratamento de diversas doenças, sendo também uma alternativa válida e menos invasiva aos tratamentos cirúrgicos. Houve um verdadeiro "boom" na pesquisa e desenvolvimento de medicamentos desde o fim da segunda guerra mundial. Só para se ter uma ideia desse crescimento, basta ter em mente que há mais de 10.000 fármacos (medicamentos) vendidos ao redor do mundo objetivando tratar os mais diversos tipos de doenças.

Uma ferramenta tão crucial para o tratamento - ou mesmo a prevenção - de doenças pode sofrer um controle abusivo dos preços por parte da indústria e das farmácias comerciais, que podem estipularem preços mais elevados propositalmente, pois sabem que qualquer medicamento é essencial quando se trata de saúde e que, dependendo do caso, um determinado paciente é capaz de tudo para obtê-lo, nem que seja pra pagar bem mais caro para consegui-lo. Foi pensando nesse carácter abusivo que muitas farmácias vinham adotando em relação ao preço, que a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estipulou um preço máximo que deve ser taxado ao consumidor, e se uma farmácia não obedece o preço máximo estipulado, ela poderá sofrer sanções e processos judiciais. 

Para acessar a tabela de preços máximos da ANVISA basta clicar aqui: http://portal.anvisa.gov.br/listas-de-precos

Após a página carregar na sua tela vai ter a seção "1) Preço de medicamentos (Preço de fábrica e preço máximo ao consumidor)". Logo abaixo desse tópico haverá o nome "PDF", o qual possui a lista de todos os medicamentos vendidos no Brasil e os seus respectivos preços máximos repassados ao consumidor. Você pode ver também a última data de atualização do sistema e a categoria "anos anteriores" para que você acompanhe a evolução dos preços ao longo dos anos.

Veja como funciona na imagem abaixo: 

Na imagem temos a lista completa (PDF ou em XLS) e a última atualização, que foi em 22/05/2017, que será válida até uma próxima atualização do sistema pela ANVISA.

Aqui nós utilizaremos o preço de dois medicamentos bem conhecidos: o paracetamol e o minoxidil solução capilar.


Como primeiro exemplo nós utilizaremos o Paracetamol solução oral, um dos anti-inflamatórios mais vendidos do Brasil e do mundo.

Na primeira tabela temos o nome do medicamento e o laboratório o qual produz, juntamente com o seu número de registro na ANVISA.
Na segunda parte nós temos a sua dosagem e forma farmacêutica, que no caso é 200 mg/ml em um frasco de 15 ml.


Nessa tabela nos temos o preço máximo ao consumido (PMC) em verde com base no ICMS pago por cada farmácia. Se uma farmácia paga 0% de ICMS, ele deverá vender o paracetamol 200 mg/ml frasco de 15 mL por no máximo R$ 6,47, enquanto que uma farmácia que paga 20% poderá vendê-lo por no máximo R$ 8,27


Para o próximo exemplo usaremos o Minoxidil solução capilar, cujo nome comercial é Aloxidil. Para quem não o conhece, ele é uma das principais, se não a principal juntamente com a finasterida, substâncias utilizadas para o tratamento da calvice masculina.




Aqui nós podemos analisar que o Aloxidil solução capilar de 50 mg/ml em frasco de 50 ml deverá ser vendido por no máximo R$ 136,82 nas farmácias que pagam 0% de ICMS e por no máximo R$ 175,04 em farmácias pagando 20% de ICMS.

Essa tabela de valores é sempre atualizada pela ANVISA, sendo válida a última atualização da mesma. O ICMS é o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, e varia de farmácia pra farmácia. Farmácias com redes pequenas geralmente pagam pequenas taxas de ICMS, onde aquelas unitárias, geralmente um negócio próprio, são isentas. As grandes farmácias pagam alíquotas maiores de ICMS e portanto sempre terão os medicamentos mais caros. Se você foi até alguma farmácia e achou o preço abusivo, você poderá perguntar o quanto de ICMS a farmácia pagar e comparar com a tabela de preços da ANVISA.

Obs.: nas seções que tem "liberado" significa que um preço máximo ainda não foi estipulado.

segunda-feira, 6 de março de 2017

Pílula do dia seguinte: saiba como usar e quais são os riscos

Após uma relação sexual desprotegida, naquela onde houve a  falha dos métodos convencionais de contracepção (camisinhas/anticoncepcionais) ou em caso de violência sexual, o uso de um método contraceptivo de emergência é requerido para evitar uma gravidez, e o mais conhecido deles é a pílula do dia seguinte que tem revolucionado ao reduzir drasticamente os níveis de gravidez indesejada entre os jovens. Só nos Estado Unidos, esse método evita anualmente 1,5 milhão de nascimentos não planejados e evita 700 mil abortos por ano. Desde que elas foram liberadas nos EUA em 1994, houve uma queda de 45% no casos de aborto em todo o país entre 1994 - 2000.

Como elas agem?

Apesar de muitos nomes comerciais, basicamente existem dois tipos de pílulas de emergência: as pílulas contendo apenas progestinas e os contendo progestinas e estrógenos (chamadas de combinadas). Basicamente elas atuam da seguinte forma: as altas concentrações de estrógenos inibem a formação do pico do hormônio luteinizante (LH) que é o grande responsável pela liberação do óvulo no útero. As progestinas atuam do mesmo modo ao inibirem o pico de LH, mas elas tem ações adicionais, tais como o espessamento do muco cervical e diminuição  motilidade das fímbrias tubárias, fazendo co que o óvulo não chegue ao útero, além de deixar a parede uterina mais frágil para a implantação do mesmo. Por esses motivos os anticoncepcionais de emergência que contém apenas progestinas em altas concentrações são os mais efetivos. No Brasil APENAS contraceptivos à base de progestinas são vendidos, utilizando o levonorgestrel em todas as marcas.

Efeitos adversos

Não existe efeitos adversos significativos e nunca foi relatado até hoje reações adversas graves com o uso da pílula. Os efeitos adversos mais comuns são: vômitos, náusea, tontura e fadiga, afetando 50-60% das pacientes. As pílulas contendo progestinas possuem menos reações indesejáveis.

Quando a pílula do dia seguinte é utilizada antes da ovulação, a menstruação ocorre 3-7 dias mais cedo, e quando elas são tomadas após a ovulação, a menstruação ocorre no dia ou em até com 3 dias de atraso.

*Obs.: elas não perdem eficácia com o uso contínuo. Isso não passa de crença popular.

Como utilizar?

Elas devem ser utilizadas em até 72 horas (3 dias) após a relação sexual desprotegida, e a sua eficácia é dependente do tempo, sendo a falha de apenas 4% no primeiro dia, mas subindo para 10% se usada ao terceiro dia. Se após a ingestão pílula ocorrer êmese (o ato de vomitar) no período de até 1 hora após a ingestão do comprimido, uma nova dose terá que ser administrada. Contudo, se o vômito ocorrer após 1 hora da ingestão, não será necessário a repetição da dose.

Os regimes vigentes são os de dose única, que são apenas para os contraceptivos com progestinas e os de dose dupla, que são ou combinados (estrógenos + progestinas)  ou aqueles contendo apenas progestinas. No Brasil só se utiliza o levonorgestrel (progestina).

Qual é a melhor?

Exitem diversas marcas vigentes:

- Sob dose única:

Levonorgestrel (genérico)Postinor Uno; e Pozato Uni.

- Sob dose dupla

Diad; Minipil2-Post; Nogravide; Pilem; Poslov; Postinor 2; Pozato; Previdez 2; e Prevyol.

Todas usam o levonorgestrel, então todas tem a mesma eficiência. As duas únicas diferenças estão na dosagem: naquelas que são dose única utilizam 1,5 mg de levonorgestrel e na dose dupla são utilizados 0,75 mg em cada comprimido, e por último, mas não menos importante, a diferença está no preço.








domingo, 5 de março de 2017

Carisoprodol: um dos medicamentos mais vendidos no Brasil e um dos mais perigosos

O carisoprodol é um dos relaxantes musculares mais vendidos do Brasil, juntamente com a ciclobenzaprina,  devido a sua alta eficiência. Ele é encontrado em várias combinações de analgésicos vendidos pelo território nacional, tendo efeito rápido, prolongado e qualitativo, sendo usado em casos de dores musculoesqueléticas provocadas por contusões, hérnias ou câimbras. Apesar de ser tão eficiente, seu uso pode trazer sérios riscos.

O carisoprodol age nos receptores gabaérgicos do tipo A na formação reticular da medula espinhal, inibindo o fluxo da dor e tendo a propriedade de relaxar a musculatura. O grande problema desse medicamento é que ele é convertido pelo fígado em meprobamato, uma substancia altamente viciante e responsável pelos efeitos farmacológicos do carisoprodol. O meprobamato era vendido comercialmente nos anos 50 para tratar a ansiedade, mas foi retirado do mercado na década seguinte devido aos seus pesados efeitos adversos, tais como dependência, letargia, falta de coordenação motora, raciocínio prejudicado, convulsões e fraqueza muscular. A dependência com o meprobamato é similar aquela dos benzodiazepínicos (clonazepam, lorazepam etc.) e como dos barbitúricos (fenobarbital), e pode levar meses para cessar.

Por esses motivos, o carisoprodol possui efeitos adversos similares ao uso do meprobamato puro, sendo proibido na Indonésia, União Européia e no Reino Unido, sendo apenas utilizado sob prescrição médica no Canadá e nos EUA. No Brasil a sua compra é livre e não há nenhum controle por pare da Anvisa.

Interação entre alimentos e os antibióticos mais utilizados


Uma crença real

Já é do costume popular achar que tomar antibióticos junto com alimentos corta o efeito do mesmos. Isso é verdadeiro para a maioria dos antimicrobianos comumente usados, e não só no caso de alimentos, mas também no uso de antiácidos. As interações são de cunho químico e são bem interessantes para aqueles que gostam de explorar a área. Vejamos como os alimentos e antiácidos interagem com as principais antibióticos utilizados no Brasil.


Penicilinas e cefalosporinas

São compostos que possuem o chamado anel beta-lactâmico, que é extremamente instável e responsável pela sua ação contra as bactérias. Quando esse anel é rompido, as penicilinas e cefalosporinas perdem atividade. Alimentos ricos em íons como cálcio e magnésio rompem esse anel. Então alimentos ricos em íons como leite, carne, feijão e derivados e antiácidos como os hidróxido de alumínio e leite de magnésia também desativam os beta-lactâmicos. Essa inativação ocorre à nível de estômago e os compostos são absorvidos do intestino para a corrente sanguínea, porém sem atividade.

Exemplos de beta-lactâmicos: amoxicilina, cefalexina, penicilina V, cafaclor e cefalotina.



Tetraciclinas

São compostos formados por quatro anéis rígidos e são bastantes conhecidos. A interação alimentar com eles é um pouco diferente, e exclusiva com íons divalentes/trivalentes/multivalentes como cálcio, ferro, alumínio e magnésio. Os íons formam as chamadas ligações coordenadas com os oxigênios das tetraciclinas, formando ligações fortes com uma ou duas tetraciclinas, tornam-as insolúveis no estômago e impossíveis de serem absorvidas no intestino, sendo eliminadas quase que totalmente nas fezes. Alimentos ricos em íons como o leite e derivados, feijão, carne e antiácidos promovem a reação.

Exemplos de tetraciclinas: minociclina e tetraciclina. 



Quinolonas

São bem conhecidas quando se trata de infecções urinárias, e podem sofrer com a perda de eficiência quando ingeridas com alimentos e antiácidos. O mecanismo não está bem claro, mas o que se sabe é que o alimento/antiácido reduz os níveis sanguíneos das quinolonas, o que pode acarretar em falha terapêutica e continuidade da infecção.

Exemplos de quinolonas: norfloxacino, ciprofloxacino e levofloxacino.




O que fazer?

As medidas para manter a eficácia terapêutica desses medicamentos é simples: usá-los uma hora antes da alimentação/antiácidos ou duas horas depois de se alimentar/usar antiácidos. Isso garante que não haverá nenhuma interferência na absorção do medicamento.