O hipotireoidismo é uma doença geralmente silenciosa que pode ou não ser sintomática. Estudos feitos no Brasil mostram uma prevalência girando em torno de 4-8%, afetando mais as mulheres do que os homens. A doença pode trazer complicações principalmente para o sistema circulatório e neuronal, tendo elevado índice de morbidade se não tratada.
O hipotireoidismo ocorre quando a tireoide produz pouco T4 (tiroxina), o principal hormônio tireoidiano. Ou quando a produção está na dentro dos limites, porém acorre um aumento na produção do hormônio TSH. O diagnóstico de hipotireoidismo é clínico e laboratorial, ou seja, as reclamações ouvidas do pacientes juntamente com o resultado dos exames atestam o hipotireoidismo.
Apenas 50% dos brasileiros sabem que tem a doença e fazem tratamento. Em populações como a idosa e a infanto-juvenil, a porcentagem dos que desconhecem ou não fazem nenhum tratamento muito mais elevada.
Função da tireoide e regulação dos seus hormônios.
A tireoide é um órgão situado na frente da laringe, no pescoço, sendo responsável pela produção de tiroxina (T4) e em menor escala da triodotironina (T3). A produção desses hormônios é controlado por mecanismos do tipo feedback.
À nível cerebral, a pituitária (uma pequena glândula localizada no cérebro do tamanho da cabeça de um alfinete) produz um hormônio chamado TSH (Thyroid Stimulating Hormone). O TSH estimula a tireoide a produzir e a liberar os hormônios T4 e T3, sendo que o T4 é o mais liberado (cerca de 75% do volume). Na circulação sanguínea, o T4 é convertido em T3, que é a forma biologicamente ativa do hormônio.
No organismo o T3 tem uma meia-vida curtíssima e promove profundas mudanças biológicas, principalmente metabólicas, tais como aumento da temperatura, da frequência cardíaca, da pressão sanguínea, queda nos nível de colesterol e lipídios, queda no peso, melhora no humor e no nível de atenção, aceleração do processo de digestão e dentre outros. Quando ocorre uma diminuição nos níveis de T3, o organismo passa a sofrer um grande número de problemas metabólicos.
Diagnóstico do hipotireoidismo.
O hipotireoidismo é diagnosticado pela junção das reclamações clínicas do paciente e por resultados laboratoriais. No nível clínico, o paciente geralmente reclama de intolerância ao frio, prisão de ventre, sono durante o dia, pele seca, sensação de cansaço constante, ansiedade, depressão, aumento de peso e inchaço. Geralmente o colesterol e o LDL (mal-colesterol) encontram-se elevados e os batimentos cardíacos diminuídos (bradicardia).
Ao exame laboratorial, os níveis de TSH encontra-se elevados (acima de 4,5 mU/L) e os níveis de T4 estão baixos (abaixo de 1,4 mU/L), podendo assim ser chamado de hipotireoidismo evidente. Existe também o hipotireoidismo subclínico, que é aquele ao qual o paciente tem poucos sintomas e os níveis de T4 estão normais, porém os níveis de TSH encontra-se elevados. No hipotiroidismo subclínico a pituitária tenta produzir muito TSH para que os níveis de T4 não fiquem abaixo do normal, mas às vezes isso nem é o suficiente para evitar a queda, provocando dessa forma o chamado hipotireoidismo evidente, como mencionado anteriormente.
Uma das principais causas de hipotireoidismo é o ataque auto-imune da tireoide pelas nossas próprias células de defesa ocasionando uma perda total/parcial da tireoide, sendo permanente na maioria das vezes. Por isso muitos médicos pedem exames complementares como o aTPO (anticorpos
antitireoperoxidase) e o aTg (antitireoglobulina) para confirmar se a doença é auto-imune. Ela pode ser idiopática (sem causa definida) ou após alguma infecção bacteriana ou viral das vias aéreas.
A segunda maior causa é devido a baixa ingestão de iodo na dieta. O iodo é essencial para a produção dos hormônios tireoidianos e sem ele, não há produção de T3 e T4. Uma característica da deficiência de iodo é o bócio, que é um aumento da tireoide caracterizado por baixas concentrações de iodo e hormônios tireoidianos e uma alta concentração de TSH. O bócio é visível e facilmente diagnosticado, mostrando uma protuberância evidente na região do pescoço. O tratamento é simples, feito à base de suplementação com o iodo. Geralmente o iodo já vem suplementado em diversos alimentos, e no Brasil ele é encontrado principalmente no sal de cozinha, sendo naturalmente encontrado em algas marinhas, peixes e leite. Porém, o excesso de iodo na dieta também pode provocar o hipotireoidismo auto-imune por um mecanismo ainda desconhecido. Então nem devemos ter o iodo em baixa e nem em excesso, obtendo apenas a faixa ideal de sua concentração.
Mulher com bócio evidente
Por vezes o médico pode solicitar um exame para avaliar a concentração de iodo por meio de coleta de urina para verificar se há uma deficiência ou uma hiper suplementação desse mineral.
Tratamento
O tratamento é bem simples e muito eficaz, com resultados sendo alcançados com no máximo um mês de terapia. A substituição hormonal é o único tratamento para aqueles que sofrem com o hipotireoidismo, sendo a tiroxina (T4) o hormônio de escolha. O uso da triodotironina (T3) não é recomendada devido a ausência de comprovada eficácia e o uso de múltiplas doses diárias. A combinação entre T4 e T3 é raramente usada, e quando usada, trata casos peculiares e refratários de hipotireoidismo. O objetivo do tratamento é a diminuição dos sintomas clínicos e o retorno aos níveis normais de TSH, T4 e T3. Geralmente, os sintomas cognitivos tais como cansaço, depressão, ansiedade e perda de memória levam um pouco mais de tempo para desaparecerem em alguns pacientes, porém eles apresentam melhoras significativas ao início da terapia.
Devido as alterações vasculares e o aumento na carga de lipídeos e colesterol, pacientes com hipotireoidismo estão mais predispostos a terem infartos cardíacos e derrames cerebrais bem como problemas renais, tais como insuficiência renal. A predisposição ao diabetes é maior nesses pacientes. O desenvolvimento da depressão pode ser um dos fatores que mais comprometem a qualidade de vida do doente, sendo resistente se não tratada. A diminuição em outras habilidades cognitivas tais como a memória pode ser significativa. Quando o hipotireoidismo ocorre na infância, esse terá que ser tratado urgentemente, pois o hipotireoidismo é associado com retardo mental.
O que acontece se eu não tratar?